O antigo ministro Manuel Pinho, acusado de ter sido corrompido pelo ex-banqueiro Ricardo Salgado enquanto esteve no Governo, garante estar "preparadíssimo" para ser interrogado no julgamento, lamentado que tal ainda não tenha acontecido, devido a greves dos funcionários judiciais.
Corpo do artigo
O início do julgamento foi, esta sexta-feira, reagendado uma segunda vez, devido à greve convocada para hoje pela Federação Nacional de Sindicatos Independentes da Administração Pública e de Entidades com Fins Públicos (FESINAP), que abrange os oficiais de justiça.
Na terça-feira, a sessão tinha já sido adiada pela primeira vez devido a uma outra paralisação, agendada pelo Sindicato dos Funcionários Judiciais. O julgamento começará agora às 9.30 horas próxima terça-feira, 10 de outubro, dia para o qual apenas está marcada uma greve, convocada pelo Sindicato dos Oficiais de Justiça, a partir das 13.30 horas.
"As primeiras [...] vezes que me chamaram a prestar declarações ao Ministério Público, [na fase de inquérito], não pude prestar declarações. Agora é a segunda vez que aqui venho, também não posso prestar declarações. Espero que isso suceda o mais rapidamente possível. Eu estou preparadíssimo", afirmou esta sexta-feira, no Campus de Justiça de Lisboa, Manuel Pinho, após ter sido informado de que o julgamento fora novamente adiado.
O objetivo, reiterou, "é refutar uma acusação que tem por base um pacto [corruptivo] totalmente falso e sem nexo". No total, o titular da pasta da Economia entre 2005 e 2009 terá, segundo o Ministério Público, recebido cerca de cinco milhões de euros de Ricardo Salgado, então presidente do Banco Espírito Santo (BES), para beneficiar esta instituição financeira e o Grupo Espírito Santo (GES) em projetos urbanísticos.
Acusado de corrupção passiva, fraude fiscal e branqueamento, o antigo governante, de 68 anos, encontra-se desde dezembro de 2021 em prisão domiciliária numa quinta no concelho de Braga, a cerca de 360 quilómetros de Lisboa, tendo, esta semana, percorrido mais de 1400 quilómetros para que nada sucedesse. "Creio que merecia um pouco de respeito", atirou.
"Não vamos diabolizar a situação"
Já o advogado de Ricardo Salgado, que tal como tem sido habitual neste e noutros processos não compareceu no julgamento por "doença", considerou que "é normal" que as greves causem "algum distúrbio nos trabalhos".
"Obviamente que me custa vir aqui e ir-me embora. [...] Agora, não vale a pena responsabilizarmos os senhores funcionários judiciais por um inquérito que durou mais de dez anos. Não vamos diabolizar a situação.", sublinhou, à saída do Tribunal Central Criminal de Lisboa, Francisco Proença de Carvalho.
O defensor referia-se ao facto de o atual processo, no qual o ex-banqueiro responde por corrupção ativa e branqueamento, ter resultado da investigação, iniciada em 2012 pelo Ministério Público e ainda em curso, a supostos favores de Manuel Pinho à EDP.
Além de Manuel Pinho e de Ricardo Salgado, de 79 anos e a aguardar o resultado de uma perícia independente para apurar se sofre mesmo de Alzheimer, é também arguida neste caso Alexandra Pinho, de 63 anos e mulher do ex-ministro. Está acusada de branqueamento e fraude fiscal, por ter, alegadamente, colaborado com o antigo governante na ocultação e lavagem, através de offshores, das presumíveis "luvas" pagas pelo ex-banqueiro.
Os crimes são negados por todos os arguidos.