O estudante acusado de terrorismo por ter planeado um ataque na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) confessou, esta terça-feira, ter adquirido no site OLX e numa loja de caça o armamento para o fazer, mas ressalvou que adiou o ato por quatro vezes antes de ser detido pela Polícia Judiciária (PJ), a 10 de fevereiro deste ano, 2022.
Corpo do artigo
"Talvez não quisesse fazer aquilo. Acho que não tinha coragem para matar uma pessoa", assegurou João C., de 19 anos, no primeiro dia do julgamento, em Lisboa. "Penso que era péssima a minha ideia, porque era errada e porque penso que não ia conseguir matar ninguém. É errado porque é moralmente errado matar uma pessoa", acrescentou, assegurando que, hoje, se sente "melhor" e já não pensa em cometer massacres.
O jovem, que responde ainda por detenção de arma proibida, está há sete meses internado preventivamente no âmbito do processo.
Esta terça-feira, João C. recordou que começou a planear o ataque em janeiro deste ano, depois de ter ficado "deprimido" pelo "amor platónico" que sentia por uma rapariga que conhecera na Internet não ter sido correspondido.
Na altura, admitiu, era fascinado há anos por assassínios em massa e queria "chamar a atenção das pessoas" dessa comunidade, com quem se relacionava em sites como o Tumblr e o Discord.
Embora não pretendesse atingir "ninguém em especial", o objetivo sempre foi atacar no meio escolar e matar pelo menos três pessoas. A inspiração foi um videojogo sobre um assassínio em massa numa escola.
Em seguida, comprou uma besta, uma faca militar e um punhal e material para fabricar cocktails molotov.
"O plano seria levar as armas para a faculdade, ir à casa de banho preparar-me e depois fazer o ataque durante cinco minutos", revelou.
A seguir, não pensou "muito bem no que iria fazer". Assumiu, ainda assim, que o alvo seria uma sala, onde estaria a decorrer um exame, com cadeiras fixas, para não poder ser atacado.
Tinha plano escrito
Quando foi detido pela PJ na casa que partilhava com quatro pessoas, em Lisboa, João C. tinha três cocktails molotov prontos a ser usados e experimentara já ir com uma mala de viagem vazia até à FCUL, a mesma que tencionava usar para transportar o armamento para o ataque.
No seu quarto, foi ainda encontrado um papel com um plano pormenorizado do que faria a 11 de fevereiro. Tinha sido escrito a 8 do mesmo mês, já depois de ter adiado por duas vezes o ataque.
O objetivo, explicou em tribunal o arguido, era que as autoridades soubessem o que tinha planeado fazer, uma vez que nunca pensara sobreviver ao ataque. "Iria cometer suicídio ou ser morto pela Polícia", justificou.
Na altura, já tinha noção de que o planeava era "errado", mas nunca chegou a pedir ajuda, nomeadamente psicológica, para deixar de pensar em fazer um massacre.
"Achava que ia conseguir resolver sozinho", desabafou o universitário, reconhecendo que "não tem a certeza" de como o iria fazer.
O interrogatório continua durante a tarde, no Tribunal Central Criminal de Lisboa.