As agressões sofridas por cerca de 10 guardas provisórios, no 40.º curso do Centro de Formação da GNR, em Portalegre, durante o módulo "curso de bastão extensível", denunciadas há um ano pelo JN, estão ainda sob investigação no Ministério Público. Já o processo interno da GNR contra o então diretor do Centro foi arquivado, depois de ter sido exonerado do cargo.
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O processo-crime está em "fase de inquérito" e prossegue "não havendo arguidos constituídos", explica ao JN fonte da Procuradoria-Geral da República, adiantando ter sido decretado "segredo de justiça". Até ao fecho desta edição do JN, o Ministério da Administração Interna não prestou esclarecimentos sobre o caso.
Entre 1 de outubro e 9 de novembro de 2018, período em que decorreu o polémico módulo, os recrutas foram violentamente espancados e humilhados por um formador denominado "Red Man" (homem vermelho), armado com luvas de boxe, chumaços, caneleiras e capacete protetor, em notória superioridade em face dos indefesos recrutas, a lutar de calças e t-shirt, sem proteção e com um mero bastão de plástico (PVC) revestido a esponja ou borracha. O JN divulgou um vídeo das agressões.
As violentas agressões provocaram graves lesões, obrigando a internamentos hospitalares e a intervenções cirúrgicas. Houve formandos que perderam os sentidos e ficaram com mazelas oculares. Correram sério risco de perder a visão.
O JN sabe que os guardas provisórios espancados já foram ouvidos nos inquéritos instaurados depois da polémica. Após o sucedido, foram aprovados e são hoje militares efetivos da GNR.
Aquando da denúncia do JN, a 2 de dezembro do ano passado, o Comando Geral da GNR garantiu existir "um processo de averiguações para se apurarem as circunstâncias do sucedido".
Factos "não toleráveis"
Não obstante saber-se quem são as pessoas envolvidas nas práticas violentas de formação, as autoridades ainda não terão reunido indícios suficientes para imputar crimes e infrações disciplinares a concretos elementos da GNR.
Após a divulgação do vídeo em que se via um guarda provisório a ser agredido, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, pediu esclarecimentos ao Comando Geral da GNR, considerando que os factos, "a confirmarem-se, não são toleráveis numa força de segurança num estado de direito democrático".
Em reação à notícia do JN, Eduardo Cabrita determinou ainda à Inspeção-Geral da Administração Interna a abertura de um inquérito para apuramento de factos e responsabilidades, que ainda se encontrará pendente.
Lesões
Narizes partidos e lesões oculares
Segundo fonte que, aquando da denúncia do caso, solicitou anonimato ao JN, por receio de retaliações, "oito ou nove alistados foram internados no Hospital de São José, de urgência, com narizes partidos, fraturas nos dedos das mãos e, no caso de um deles, lesões oculares". Antes, passaram pelo Hospital de Portalegre, mas tiveram de ser transferidos, devido à gravidade das lesões. "Todos tiveram hematomas como olhos negros, nariz partido, a boca a sangrar ou ferimentos nas orelhas, mas não foram à enfermaria com medo de represálias. No caso dos guardas provisórios do sexo feminino, houve casos de socos na cabeça, mulheres empurradas e com os peitos pisados. Muitas delas tinham medo de ir à enfermaria com receio de chumbar o curso", relatou a mesma fonte.
Pormenores
Mudanças
O ex-diretor do Centro de Formação de Portalegre, que fora exonerado logo após as agressões terem sido noticiadas pelo JN, foi a seguir colocado na Direção de Formação, do Comando da Doutrina e Formação, com poder sobre toda a formação da GNR. A mudança, encarada como promoção, acabaria por ser anulada. O oficial foi nomeado inspetor-adjunto da Inspeção da GNR.
Vigilância
Novidade do novo 41.º curso de formação na GNR foi a colocação de câmaras de vigilância. O curso dura cerca de 10 meses, sendo ministradas diversas matérias militares e de formação em áreas jurídicas e técnico-profissionais. A formação tem ainda uma vertente prática.
*Com A. L. D.