"Hacker" admitiu ser contratado pela Doyen mas achou que tinha dever de revelar "negócios obscuros do futebol". MP acusa-o de tentativa de extorsão.
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Rui Pinto contactou o CEO da Doyen para o confrontar com várias ilegalidades por ele cometidas. A ideia, garante a defesa do pirata informático, seria que Nélio Lucas confirmasse os atos e também perceber quanto é que ele valorizava a eventual divulgação de tais informações.
Para o Ministério Público, tratou-se de uma tentativa de extorsão que falhou porque a vítima fez queixa às autoridades. A contestação de Rui Pinto nega e contra-ataca. Diz que o homem-forte da Doyen é que tem registo criminal. Mais: que Nélio o elogiou e mostrou interesse "em conseguir obter informação da Federação Portuguesa de Futebol (FPF)".
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Extorsão ou teste?
Segundo o documento entregue no Tribunal, Rui Pinto, através de pseudónimo, informou o "cidadão Nélio Lucas" que tinha várias propostas para entregar documentação comprometedora à imprensa internacional.
A 8 de outubro de 2015, contactou o advogado Aníbal Pinto para eventualmente o representar em negociações com vista à assinatura de um contrato de prestação de serviços, assim mantendo o seu anonimato.
Aníbal Pinto reuniu com Nélio Lucas a 21 de outubro. Depois, comunicou a Rui Pinto que o CEO da Doyen "estava impressionado" com as suas capacidades e que até "pretendia contratá-lo, referindo, inclusive, o interesse que Nélio Lucas tinha em conseguir obter informação da FPF".
A defesa assume que Rui Pinto "admitiu, efetivamente", a possibilidade de vir a ser contratado para trabalhar como técnico de informática com um ordenado anual de 25 mil euros". Porém, prossegue a contestação, no início de novembro, apercebeu-se do "grave erro em que incorrera".
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"O mundo do futebol tinha de saber a verdade acerca dos negócios obscuros do futebol e era seu dever divulgá-la, o que decidiu continuar a fazer", diz a defesa. E a 3 de novembro retomou as publicações do Football Leaks, sem sequer avisar o advogado. Nélio Lucas, numa altura em que já estaria a colaborar com a Polícia Judiciária, ainda tentou continuar a chegar a um acordo, mas, para a defesa, Rui Pinto foi "inflexível". "O arguido desistiu apesar de Nélio Lucas ainda querer pagar", frisam os advogados.
Entendimento diferente tem o Ministério Público (MP), que acusa Rui Pinto e o advogado de tentarem chantagear a Doyen. A tentativa de extorsão à empresa é um dos 90 crimes pelos quais Rui Pinto começa a ser julgado no próximo dia 4. Depois de estar mais de um ano detido, o arguido está agora a colaborar com as autoridades e sob proteção policial num local secreto.
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Julgamento de Rui Pinto transmitido por videoconferência por causa da covid-19
A audiência do julgamento do Football Leaks será transmitida por videoconferência para outro espaço de modo a contornar as limitações determinadas pela pandemia da covid-19. Inicialmente, só dez pessoas - seis jornalistas e quatro familiares dos arguidos - poderiam assistir à audiência, no Campus da Justiça, em Lisboa. Porém, após ter sido alertada a juiz presidente do Tribunal de Lisboa prometeu tomar medidas para facilitar o acesso a um dos mais mediáticos julgamentos dos últimos anos. Ontem, a juíza desembargadora Amélia Catarino anunciou que a audiência irá ser transmitida por videoconferência noutro espaço a comunicar em breve. "O visionamento por videoconferência terá as mesmas limitações que foram definidas por despacho" pela juíza presidente do coletivo, adianta o comunicado.