Rui Pinto adotou silêncio em Portugal. Ministério Público de França garante que novas informações nunca serão usadas contra o pirata informático.
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Rui Pinto recusa colaborar com a justiça portuguesa e nem sequer presta declarações à PJ ou ao Ministério Público, no processo em que é suspeito de crimes informáticos e de tentativa de extorsão, de meio milhão de euros, contra o fundo de investimento Doyen Sports. Também não está disposto a ajudar as autoridades a explorar o material informático apreendido, onde poderão existir preciosas informações que poderiam abrir novas investigações em Portugal. Já com França, onde não é suspeito de crimes, o gaiense, atualmente em prisão preventiva, tem a garantia de que todas as informações fornecidas nunca serão usadas contra ele.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, as autoridades tentaram sensibilizá-lo para o facto de a sua colaboração poder vir a beneficiá-lo. Mas nada o demove. Afasta totalmente a hipótese de ajudar a Polícia Judiciária a explorar o material informático que lhe foi apreendido na Hungria. O Fisco já lhe tinha pedido colaboração numa investigação sobre fraudes fiscais no desporto.
Antes da extradição, no Tribunal de Budapeste, Rui Pinto alertara que temia o regresso a Portugal: "Infelizmente, não posso confiar nas autoridades portuguesas. Já deram provas de que, em casos relacionados com o futebol, são completamente parciais".
Não negociamos imunidade
Por outro lado, o pirata informático deverá recusar prestar declarações às autoridades russas, que suspeitam que Rui Pinto tenha usado um potente vírus naquele país para lesar bancos (ver caixa).
As únicas autoridades com que, para já, aceita falar são as francesas, que o ouviram como testemunha, numa investigação por crimes de colarinho branco. O Parquet National Financier (PNF), que está na posse de cópias de todo o material informático apreendido a Rui Pinto, quer que ele beneficie de uma certa proteção.
"Não negociamos imunidade. A única coisa que podemos garantir é que as informações [dadas pelo hacker] quer pela França, quer por outros países a que a França os poderá ceder, não sejam utilizadas contra Rui Pinto", adiantou ao JN o procurador Jean-Yves Lourgouilloux, do PNF, que está agora a estudar a melhor maneira de estudar e partilhar a informação fornecida por Rui Pinto às autoridades dos países que estejam interessados.
Advogado arguido
O hacker está indiciado por seis crimes, dois de acesso ilegítimo, dois de violação de segredo, um de ofensa a pessoa coletiva e outro de extorsão qualificada na forma tentada. Aníbal Pinto, o seu ex-advogado que na altura intermediou os contactos com a Doyen, foi constituído arguido.
Rui Pinto também é o único suspeito de ter desviado os e-mails do Benfica. Sobre este caso, a estratégia é a mesma: silêncio absoluto.
Mais casos
Russos suspeitam que hacker lesou bancos com vírus
As autoridades russas enviaram para o Ministério Público português uma carta rogatória com perguntas para Rui Pinto. Naquele país, o pirata informático é suspeito de ter usado um vírus que se disseminou no sistema bancário da Rússia e causou prejuízos de milhões. As autoridades de Moscovo já detiveram uma dezena de indivíduos ligados à criação e utilização do vírus e acreditam que Rui Pinto também teve participação. Querem ouvi-lo ainda sobre o roubo de comunicações eletrónicas de alguns clubes da Federação Russa, mas também da UEFA. A revista "Sábado" avançou ontem na edição online que um juiz e um procurador russos já estão em Lisboa para acompanhar o interrogatório de Rui Pinto.
Pormenores
Vence prémio europeu
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Rui Pinto, que denunciou esquemas de evasão fiscal em vários países, é um dos vencedores de um prémio europeu para denunciantes promovido pela Esquerda Unitária Europeia (GUE/NGL). "Foi extremamente importante saber que os seus contributos para a transparência e para o combate à corrupção e ilegalidade no mundo do futebol são, merecidamente, reconhecidos e valorizados a nível europeu", declararam os seus advogados, William Bourdon e Francisco Teixeira da Mota.
Lei para denunciantes
O Parlamento Europeu aprovou, ontem, a primeira lei europeia para os "whistleblowers" (denunciantes). O objetivo é criar um enquadramento legal de proteção uniforme em toda a UE, já que, atualmente, isso varia consoante o Estado-membro. A defesa qualifica Rui Pinto como denunciante.
Mais
27 dias preso
Foi no dia 22 de março que a juíza Maria Antónia Andrade decretou a prisão preventiva do hacker suspeito de intromissão informática em múltiplos clubes.
Mercado do Benfica
Rui Pinto é suspeito de participação direta na difusão dos e-mails dos encarnados do "Mercado do Benfica". Poderá ter sido ele quem fez a gestão do blogue. Desde que foi detido, nunca mais o sítio divulgou informação.
Espanha
As autoridades espanholas têm Rui Pinto como principal suspeito de ter pirateado os sistemas de correio eletrónico de vários clubes.
Recusa reunião
Ao chegar a Portugal, Rui Pinto não aceitou reunir com a PSP para delinear um programa de proteção pessoal.