De camisa azul, como sempre, mas menos confiante do que em sessões anteriores, Rui Pinto negou esta segunda-feira, repetidamente, ter sido a pessoa por detrás do blogue 'Mercado do Benfica', no qual, há cerca de quatro anos, foram divulgadas caixas de correio eletrónico, documentação do Benfica e peças reservadas de diversos processos judiciais, incluindo referentes ao mundo do futebol.
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O autor do blogue, cuja criação o Ministério Público (MP) imputa ao hacker, terá sido uma outra pessoa que "trabalhava para o Football Leaks" e que terá ignorado os pedidos de Rui Pinto para que os dados fossem entregues a um consórcio de jornalistas. "[Foi] uma facada nas costas", desabafou.
"O autor do "Mercado do Benfica", no final de 2016, conseguiu um mapa do tesouro junto de um colaborador externo do Sport Lisboa e Benfica: um guia de como aceder e aquilo a que aceder em concreto", frisou.
A sociedade de advogados PLMJ foi atacada dois anos mais tarde, depois de ter sido tornado público que um seu advogado passara a representar o Benfica.
O MP defende que foi essa representação do Benfica que levou Rui Pinto a aceder remotamente ao sistema informático da sociedade de advogados, mas a tese foi rejeitada, esta segunda-feira, em tribunal, pelo mentor do Football Leaks.
O seu objetivo, alegou, seria vasculhar o e-mail de outra causídica, mandatária de Isabel dos Santos, para saber mais sobre os negócios da empresária angolana. "Era a peça-chave", explicou Rui Pinto, que disse ser o único por detrás do Luanda Leaks.
O autointitulado denunciante acabou, porém, por reconhecer que, embora fosse esse o seu único interesse, o grupo na origem do Football Leaks acabou por "exfiltrar a maior informação possível" da PLMJ. Todos terão usado, na Hungria, o mesmo computador.
O interrogatório continua na próxima segunda-feira, 31 de outubro. Rui Pinto está acusado de 90 crimes, 89 dos quais informáticos, e a sua audição durou já dois dias e meio.
PORMENOR
Arguido acusa PJ de ter posto a sua vida "em risco"
O mentor do Football Leaks acusou a Polícia Judiciária (PJ) de ter posto a sua "vida em risco" ao fornecer o seu nome à Doyen Sports a troco do relatório da empresa de cibersegurança que analisara a intrusão, alegadamente realizada por Rui Pinto, no sistema informático daquele fundo de investimento.
Na sequência dessa partilha, o hacker autointitulado denunciante terá sido ameaçado para pôr fim às publicações sobre a Doyen Sports, o que não fez. "As pessoas devem evitar ser contaminadas pelo medo e fazer a sua vida normal", frisou.
Além da Doyen Sports, Rui Pinto é ainda suspeito de ter atacado o Sporting - o que já assumiu - e a Federação Portuguesa de Futebol. Ontem, admitiu que acedeu ao sistema desta última, mas em 2015, e não em 2018, como alega o Ministério Público. O arguido tem invocado o interesse público dos dados obtidos.