Comissão de Inquérito a roubo de armas arranca quarta-feira com ex-espião das secretas militares e antigo responsável pelos paióis, a pedido do PS.
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O antigo espião do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) e ex-responsável por uma das unidades do Exército em Tancos, o coronel Manuel Esperança, marca amanhã o arranque das audições da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ao furto de armas dos paióis do polígono militar, onde vão ser ouvidas 63 pessoas e entidades.
Com aquele oficial de infantaria, chamado a pedido do PS, inicia-se um mês inteiro de idas de militares à Assembleia da República, que podem vir a criar fortes obstáculos aos deputados, dada a sensibilidade da informação em causa. Será um verdadeiro caminho das pedras, cujas "contingências" o presidente da CPI, o socialista Filipe Neto Brandão, garante que os deputados já conhecem.
Apesar de a CPI ter como meta apurar as responsabilidades políticas no assalto, conhecido em junho de 2017, as regras do Regime do Segredo de Estado arriscam-se a ser invocadas pelos oficiais para justificar o seu silêncio ou condicionar os trabalhos da comissão.
O alerta parte de especialistas em segurança e questões militares, ouvidos pelo JN. No extremo, "parte das conclusões do relatório deste inquérito poderá nunca vir a ser conhecida ou publicada, porque colide com os interesses de segurança nacional", defendeu José Manuel Anes, fundador do Observatório de Segurança e Criminalidade Organizada.
Segundo o coronel David Martelo, em causa, entre outra razões, está o risco de poder vir a ser revelado na CPI "que armas há ou havia, onde estão ou qual o sistema de vigilância". "São questões muito sensíveis para as quais deputados e comunicação social devem ter especial atenção durante os trabalhos da comissão", sublinhou, ao JN, aquele capitão de Abril.
PS avisa Oposição
O presidente da CPI reconheceu, ao JN, que "a matéria em análise é de especial delicadeza e por isso haverá audições que se poderão vir a ser à porta fechada, se assim se justificar e for pedido". "Aliás, a deslocação a Tancos já terá esse formato [sigiloso]", frisou Neto Brandão(ler caixa em cima).
A deputada social-democrata Berta Cabral, ex-secretária de Estado da Defesa do Governo PSD/CDS, não tem dúvidas sobre tais dificuldades. "O inquérito é sobre responsabilidades políticas mas há questões [militares] que poderão vir a ser abordadas, porque é inevitável", admitiu.
Independentemente do que aí vem e que pode passar ainda por perguntas escritas ao primeiro-ministro, o coordenador do PS, Ascenso Simões deixa avisos à Oposição, que pediu o inquérito: "alguns partidos e alguns políticos vão tentar instrumentalizar a comissão e as forças armadas. Não acredito é que tenham sucesso".
Ouvir os exonerados
Após o coronel Manuel Esperança, segue-se o coronel Francisco Duarte, na quinta-feira. No final do mês terão sido ouvidos os cinco comandantes de Tancos, cujas unidades eram responsáveis pelas rondas em Tancos, que o chefe de Estado-Maior do Exército, Rovisco Duarte, exonerou quando se conheceu o furto.