Ministério Público diz que antigo empresário da noite de Guimarães quis vingar-se por pensar que vítima lhe tinha roubado 100 mil euros.
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O Ministério Público (MP) acusa António Silva, conhecido como "Toni do Penha", antigo empresário da noite vimaranense, de planear e participar no assassinato do empresário do ramo da eletricidade Fernando Ferreira ("Conde"), a 8 de janeiro de 2020, junto ao rio Ave, entre Barco e Briteiros. O processo tem mais dois arguidos. Hermano Salgado, que terá participado nas agressões fatais e também responderá por crime de homicídio qualificado, e Paulo Ribeiro, um amigo de "Toni do Penha" que fez desaparecer o carro da vítima.
Segundo a versão contada por "Toni" ao juiz de instrução, no dia a seguir ao da sua detenção pela Polícia Judiciária (PJ), cerca de um ano e meio após o crime, o homicídio teria resultado de uma tentativa de persuasão, sem intenção de matar, para tentar recuperar um valor a rondar os 100 mil euros que acreditava ter sido roubado pela vítima de sua casa, quando ali fez trabalhos de eletricidade. O abanão teria corrido mal e Fernando "Conde", ao fugir, caíra no rio Ave, onde veio a ser encontrado duas semanas depois.
Morto à pancada
Terminada a investigação, o MP não embarcou nesta tese e viu antes razões para crer que o homicídio de Fernando "Conde" foi cuidadosamente planeado até à armadilha fatal que "Toni do Penha" montou, inventando um futuro negócio, para levar o eletricista até ao parque de estacionamento do restaurante Sombras do Ave, em Caldas das Taipas. Aqui, segundo a acusação, foi morto à pancada e o corpo lançado às águas do rio Ave, com a participação de Hermano.
Mas a preparação começara bem antes. A PJ apurou que "Toni" terá começado inicialmente por pedir ao segurança privado Ricardo Guedes, que conhecia dos tempos em que explorou a discoteca Penha Club (o que lhe valeu a alcunha) a dar "um aperto" a Fernando Ferreira para recuperar o dinheiro furtado. Perante a recusa do segurança e as anteriores abordagens frustradas, "decidiu que, como não conseguia reaver o dinheiro, iria por termo à vida de Fernando Joaquim Ferreira", conclui o MP.
A partir daí, "Toni" executou uma série de manobras para encobrir a sua participação no crime. Comprou um cartão SIM pré-pago que usou para contactos com os outros dois arguidos e para atrair a vítima ao restaurante.
"Os arguidos agiram de forma concertada... planeando a morte de Fernando Ferreira com vários dias de antecedência e refletindo sobre os meios a empregar e sobre o modo como o atrair a um lugar isolado e sobre a forma de evitar serem detetados, revelando frieza de ânimo e reflexão", lê-se na acusação.
carro desapareceu
Depois do crime, os dois acusados levaram o Volvo C30 em que a vítima se deslocara até ao restaurante (avaliado em 5100 euros) e entregaram-no a Paulo Ribeiro, proprietário de um stand de automóveis, com o propósito de o fazer desaparecer.
A viatura foi transportada para França, para dificultar o trabalho policial e, segundo a acusação, até hoje não se sabe onde foi parar. Paulo Ribeiro, que está sujeito a apresentações periódicas às autoridades, é acusado do crime de favorecimento pessoal, por procurar iludir a investigação. Hermano, também em liberdade condicionada, responde, tal como "Toni" por um crime de furto qualificado.
Pormenores
Corpo a 800 metros
O corpo de Fernando "Conde" foi encontrado junto ao parque da Ínsua, em S. Cláudio de Barco, a 800 metros do local onde terá sido atirado ao rio Ave, depois de espancado.
Cúmplice
Hermano Salgado terá sido convidado para participar no crime pela sua forte compleição física. Uma soqueira de alumínio foi apreendida na residência do arguido, em Barco, Guimarães.
Lesões na cabeça
A vítima apresentava ferimentos na cabeça e nos braços, que o MP considera consistentes com as agressões levadas a cabo por Hermano Salgado e "Toni do Penha".