Presidente autossuspenso do Benfica disse a Carlos Alexandre ter sido "destacado" para o clube pelo antigo banqueiro. Garantiu ter ficado em situação de colapso após queda do BES.
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Luís Filipe Vieira garantiu durante os interrogatórios da Operação Cartão Vermelho, conduzidos pelo juiz Carlos Alexandre, ter sido "empurrado" para o Benfica por Ricardo Salgado, à época presidente do Conselho de Administração do BES, e que a sua desgraça começou quando se deixou influenciar pelo então "dono disto tudo".
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Quando tentava contrariar as suspeitas de abuso de confiança, burla, fraude fiscal, falsificação de documentos, branqueamento e abuso de informação privilegiada, imputados pelo procurador Rosário Teixeira, o presidente encarnado autossuspenso garantiu a Carlos Alexandre que todos os negócios ruinosos e causadores de dívidas milionárias dos últimos anos lhe foram indicados por Ricardo Salgado.
Disse mais: candidatou-se à presidência do Benfica "destacado" pelo antigo patrão do BES, que lhe prometera um financiamento quase ilimitado para gerir os destinos do clube. Mas não explicou porquê. Ao juiz, desabafou que, olhando para trás, chega agora à conclusão de que Salgado e o BES nunca foram seus amigos.
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Para explicar o calote de 45 milhões de euros ao Fundo de Resolução (com capitais públicos), Vieira alegou que, na altura, foi Salgado quem o incentivou a aceitar financiamentos para a empresa Imosteps, a tal que obteve créditos de 54 milhões, incobráveis mas recomprados por nove milhões de euros pelo líder encarnado, através de um esquema envolvendo o filho e o financiador de sempre, José António dos Santos, conhecido como "Rei dos Frangos". Vieira garantiu também que sem as orientações de Salgado, nunca teria pedido tanto dinheiro para a Imosteps, destinado a negócios no Brasil. O principal arguido da Operação Cartão Vermelho até assegurou a Carlos Alexandre que, além do financiamento, Salgado lhe prometeu que, no final dos negócios, ganharia mais dinheiro.
E Vieira jogou à defesa com o juiz. Foi-lhe dizendo que, durante anos, sacrificou a sua vida pessoal e que foi a queda do BES que o fez colapsar financeiramente, surgindo as dificuldades de tesouraria, as necessidades de venda de património e os pedidos de ajuda.
Mas toda esta argumentação não convenceu Carlos Alexandre, que deu carta branca ao Ministério Público para continuar a investigar e a seguir o rasto do dinheiro, pois nem sempre Vieira fez maus negócios com Salgado. A investigação do MP e do Fisco apurou que, apenas um ano depois de ter sido eleito presidente do Benfica, Vieira iniciou, a título pessoal, uma parceria com o Grupo Espírito Santo para o desenvolvimento de projetos imobiliários em Lisboa. Mais, em 2009, obteve quatro milhões de euros do BES para comprar ações do próprio banco e, com isso, lucrou 3,8 milhões. Esse dinheiro, garante o MP, desapareceu de Portugal e foi parar a contas bancárias na Suíça tituladas pelo filho, Tiago Vieira.