"Vou preso, mas tu não ficas com o terreno." Testemunha relata homicídio em Baleizão
Uma testemunha de acusação arrolada para o julgamento de António Beldroegas, pelo homicídio de Valdemar Matoso, na tarde de 6 de novembro de 2024, no concelho de Beja, contrariou esta segunda-feira o depoimento do arguido na parte em que este disse que foi provocado pela vítima nos instantes antes de disparar uma espingarda caçadeira.
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O homicídio ocorreu num terreno em Baleizão, na sequência de uma discussão entre a vítima, de 54 anos, e o arguido, de 67, por causa de um terreno de uma terceira pessoa onde apascentavam ovelhas. Ricardo Silva, dono da propriedade, contou ao tribunal que, após aquela discussão, o arguido foi a casa buscar a arma, voltou ao terreno, saiu da carrinha com a espingarda carregada e disse a Valdemar: "Vou preso, mas tu não ficas com o terreno. De imediato disparou dois tiros, o segundo pelas costas da vítima. Depois deixou o local na viatura".
Sem assumir explicitamente o crime, o arguido justificou-se: "Fui agredido pelo Valdemar, perdi a cabeça. Fui a casa e carreguei a arma, acreditando que os cartuchos tinham sementes de girassol, destinado a espantar a passarada", contou, acrescentando que, quando chegou próximo da vítima, esta virou-lhe costas e disse: "Podes-me dar um tiro no cú".
O tribunal também ouviu Manuel Falca, dono de um café onde o arguido tinha almoçado. Esta testemunha contou que recebeu um telefone do arguido, conhecido como o "Pantorrinhas", a pedir-lhe que entregasse o dinheiro da venda de uns borregos à filha, assumindo o crime. "O dinheiro que tens para me dar entrega-o à minha filha, porque acabei de matar o Valdemar". A seguir, o arguido pediu ao amigo para o levar à GNR de Beja, onde se entregou. Durante a viagem entre Baleizão e Beja, "não abriu a boca", contou ainda a testemunha.
António Beldroegas, que nunca pediu desculpa nem se mostrou arrependido dos seus atos, está acusado de um crime de homicídio simples agravado pelo uso de uma arma e arrisca uma pena entre os 10 anos e 8 meses e os 21 anos e 4 meses, além de enfrentar pedidos de indemnização da mulher e dos dois filhos da vítima que ascendem a 190 mil euros.