James Wilson, identidade que usa na Internet, diz ser "analista profissional no mercado Forex" há sete anos. Oferece conselhos e promete riqueza aos seguidores. Negócio tem sido alvo de queixas e CMVM já lançou alerta.
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Para James, "não há limites" quando o assunto é ganhar dinheiro. É através da empresa Trading Jar que promove os seus alegados serviços de aconselhamento financeiro no mercado Forex. Nesse meio, são negociadas divisas, como o euro, o dólar ou a libra esterlina. No entanto, a Trading Jar não está autorizada nem registada junto da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) para o exercício de qualquer atividade de intermediação financeira em Portugal, como alertou o regulador esta sexta-feira.
As reclamações multiplicam-se há meses, por exemplo, na página de Instagram "Analisador_Traders", que se dedica a denunciar esquemas semelhantes em Portugal, mas também na aplicação de conversação Telegram. No YouTube já são alguns os vídeos a expor o alegado esquema. Outras fontes garantem ao JN que James é apenas um nome fictício e que o seu verdadeiro nome é Gonçalo Pereira.
David GYT, outro influenciador que esta sexta-feira viu a CMVM emitir um alerta sobre as suas empresas, por também não estarem autorizadas em Portugal, chegou mesmo a apelidar James de "pseudotrader", acusando-o, no Instagram, de se apropriar de fotos suas e de "mais pessoal" para publicar no perfil.
Mas quem é James? No LinkedIn, assume-se como fundador da Trading Jar, desde maio de 2016. No entanto, no seu site é referido que a empresa apenas foi "originalmente constituída no início de 2018". No Instagram (cujo username alterou esta sexta-feira), onde é seguido por mais de 75 mil pessoas, James exibe uma vida de luxo que diz resultar dos seus ganhos. Além da casa com piscina onde se deixa fotografar, numa freguesia de Braga, e dos relógios, o jovem ostenta ainda carros topo de gama: um Porsche 911 Carrera S, avaliado em mais de 150 mil euros, e um Mercedes, que ultrapassa os 120 mil euros. Para os alegados lesados, trata-se apenas de uma estratégia de marketing para atrair clientes.
Um possível investimento depende sempre do registo numa corretora. Atualmente, James encaminha os clientes para a AvaTrade, embora já tenha recorrido à BDSwiss. O depósito mínimo indicado pelo "analista" no seu site é 350 euros, informando que é no Telegram que oferece conselhos financeiros, um curso Forex e acompanhamento. Por cada 350 euros, a AvaTrade paga-lhe cerca de 200 euros. Depois é só copiar as dicas que ele envia ("sinais"), colar e supostamente lucrar.
Vítimas perderam tudo o que investiram
Quatro clientes só perceberam engano quando já era tarde
António, Filipe, Joel e Paulo (nomes fictícios) seguiram as "trades" (operações de mercado) de James e acusam-no agora de burla. Não se conhecem entre si, mas têm um discurso perfeitamente alinhado. Por receio de represálias, preferem manter o anonimato.
"Seguia a página dele há algum tempo. Quando vim para a Holanda, fiquei de quarentena e passei a acompanhar com mais atenção a página e os feedbacks positivos. Entrei em contacto com ele e fiz o que ele dizia. Comecei a ter prejuízo diário", revela António.
Filipe começou por depositar 350 euros. "Depois, foram mais 150 e, por fim, 400. Segui os sinais, como ele aconselhava, e fui perdendo", diz o jovem. "Em três semanas foi tudo", relata, garantindo conhecer casos de "pais que, com o desespero da pandemia, apostaram as poupanças todas". Já Paulo quis entrar no negócio para pagar uma dívida. "Perdi 350 euros num ai. Nunca consegui lucrar".
As mensagens dos clientes a agradecer os lucros, no Instagram de James (sem identidades) são, para os denunciantes, feedbacks falsos para atrair mais clientes. "Dão a entender que são os gurus", afirma Joel. Quando confrontado com as perdas, o alegado trader diz que "são fases". "Não podemos é desistir, dizia ele", conta António. Joel confirma: "Dá sempre a mesma resposta e percebi que era tanga. Eles não percebem nada de mercados financeiros, percebem é como enganar as pessoas", revolta-se Joel.
Por vergonha, por medo ou por não acreditarem nas autoridades, nenhum dos quatro apresentou queixa. "Eu é que fui o burro", lamenta Paulo, que não quer "arranjar problemas". "As pessoas têm de ter um pouco de consciência. Mas cair uma vez, toda a gente cai", finaliza Joel.
Mesmo perante as dúvidas sobre a legalidade da situação, James sempre optou por ficar em silêncio. O JN tentou contactá-lo várias vezes, através da única plataforma que utiliza para comunicar com clientes, o Instagram, uma vez que não disponibiliza, por exemplo no site da empresa, uma morada, número de telefone ou endereço de correio eletrónico.
Alerta da CMVM
James é igualmente um dos visados da petição pública, onde mais de 15 mil pessoas pedem às autoridades que se investiguem os esquemas "altamente aliciantes" praticados por influenciadores digitais.
Por ser um fenómeno em crescimento, a CMVM tem vindo a alertar para um número relevante de propostas apresentadas a investidores que não constituem investimentos em instrumentos financeiros sob a supervisão da CMVM, mas são outros tipos de ativos, como o caso de transações em mercados cambiais, moedas digitais, ou, simplesmente, fraudes.
Nestes casos, acrescenta o regulador, "estão em causa práticas que permanecem fora do perímetro das competências de supervisão e sancionatórias da CMVM". Situações que "a CMVM transmite às entidades competentes, designadamente, para investigação de fraudes digitais".
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Empresas de David GYT sem autorização
A CMVM também alertou esta sexta-feira que as empresas "Global Youth Trading" e "Wevesting", do youtuber David Soares (David GYT) não estão autorizadas nem registadas para exercerem intermediação financeira. David, 24 anos, tem sido acusado nas redes sociais de, alegadamente, burlar jovens sem experiência, vendendo informações financeiras, sem estar habilitado. No Instagram ou no YouTube é seguido por milhares e não se inibe de ostentar relógios de diamantes, casas e carros de luxo.