Terras de Bouro reclama duplicação de mão de obra. Invasoras ocupam encosta e afetam trilhos turísticos.
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No último mês, mais de 30 organizações e 50 personalidades exigiram, numa carta aberta, ações concretas para controlar e erradicar as espécies invasoras que estão a ameaçar o Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG). O Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) respondeu que a contratação, em 2017, de 50 sapadores florestais está a garantir "o controlo dos novos núcleos" da praga, mas o autarca Manuel Tibo, de Terras de Bouro, onde o problema tem maior dimensão, diz que é preciso duplicar a mão de obra para pôr fim às mimosas que, além da biodiversidade, já afetam o turismo local.
"O ICNF tem feito muito investimento e tem estado presente. Mas claro que é preciso cada vez mais. Este trabalho de erradicação das invasoras seria para duas décadas e era preciso criar, no mínimo, 50 postos de trabalho", atesta o autarca, sublinhando que as equipas de sapadores florestais teriam de concentrar-se no vale do Gerês, em Terras de Bouro, onde a mancha de mimosas domina a paisagem.
Segundo o ICNF, as espécies invasoras - que começaram a propagar-se na serra depois do grande incêndio de 1989 - ocupam "uma área de cerca de 800 hectares". Mas já chegaram a dominar mais de 1000 hectares (área equivalente ao mesmo número de campos de futebol). "Nas zonas de maior dimensão e onde ocorrem manchas contínuas, o controlo é realizado através de empreitadas financiadas por fundos comunitários, com cerca de 440 hectares intervencionados nos últimos anos", garante o instituto, acrescentando que está prevista uma nova candidatura para intervir em "mais 89,7 hectares".
Manuel Tibo adianta que só o Município investiu recentemente 340 mil euros para limpar e reflorestar perto de 73 hectares no vale do Gerês, mas teme que o trabalho tenha sido inglório. "Isto precisa de acompanhamento e monitorização. Claro que devemos aproveitar fundos comunitários, mas não é com uma equipa de dez pessoas que se consegue um plano efetivo", reforça.
Risco de incêndios
Miguel Faria, um dos principais operadores turísticos do parque, corrobora as palavras do autarca e aponta os desafios que a invasão das mimosas traz ao turismo. "A grande rota do parque passa na encosta e temos de limpar alguns trilhos, mais do que uma vez por ano", lamenta, lembrando que a alta taxa de propagação das mimosas rapidamente encobre trilhos e estradas. "Quando existe risco elevado de incêndios, temos de cancelar todos os trilhos, porque é muito perigoso. Se há um incêndio, podemos ficar encurralados", alerta o empresário, apontando o Trilho dos Miradouros como um dos mais afetados pela praga.
Desafios
Maior ameaça
A Acacia dealbata, conhecida por mimosa, é a que apresenta maior ameaça, "na medida em que o seu comportamento constitui fator limitativo à recuperação dos habitats naturais", diz o ICNF.
Espécie resistente
A mimosa apresenta uma alta taxa de propagação seminal e vegetativa, rápido crescimento e resistência ao corte.
Zonas controladas
O ICNF tem direcionado a sua atuação para a Área de Ambiente Natural. Trabalho contínuo já permitiu controlar "mais de 31 novos núcleos" de invasoras.
Vender lenha
O autarca de Terras de Bouro propõe que se incentive a venda de lenha, com supervisão de técnicos do parque, e se reflorestem esses locais.