Portalegre, distrito onde as tonalidades laranja são tradicionalmente fortes, foi a primeira etapa da volta da líder social-democrata no continente.
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Mas o que vem ela fazer a umas termas?", perguntava-se, na ainda fresca manhã alentejana, entre os que acompanham a campanha de Manuela Ferreira Leite. Respondeu a candidata mais tarde que estava a homenagear os investimentos de desenvolvimento no Interior, mas a verdadeira resposta dá pelo nome de Manuel Fontainhas e estava, desde muito cedo, à sombra das árvores da Sulfúrea, em Cabeço de Vide.
Ele é que é o presidente da junta e dá-se o caso de ser militante do PSD, coisa que não espanta num distrito de Portalegre muito pintado de laranja. Daí que os correligionários por lá passem nestas alturas, até porque alguma obra feita está ali para ser mostrada. Mas também porque o presidente Fontainhas está mais do que habituado a ser cicerone.
Já era secretário da Junta de Freguesia antes do 25 de Abril e, desde que há poder local democrático, só falhou um mandato. Mais: já com cartão de militante social-democrata - é o n.º 8998 -, foi quatro vezes eleito, como independente, nas listas do PS. "Não havia gente do PSD que chegasse", explica. Para a visita de ontem, o pretexto era um balneário, inaugurado em 2007, ao cabo de seis anos de construção. Novo, portanto, ou como novo, vai dar ao mesmo. "Temos um balneário do tempo de César Augusto, de 119 antes de Cristo, outro de 1855 e um de 2007", explica Fontainhas, que, pouco depois, repete à líder a mesma ladainha. E a comitiva lá foi vendo tudo, surpreendendo os termalistas como o sr. Fernando, que fechava à pressa o robe: "Com esta não contava eu, mas ainda bem que é ela".
Margarida, Maria de Lurdes e Auta Rosa, senhoras de Cabeço de Vide, foram ali só para "homenagear a doutora". E para dizer mal de quem está no poder. Diz a segunda, a mais desinibida, que "ele pode não ter tirado o curso de engenharia, mas tirou o curso de mentira". Também a líder, estava ali, especialmente, para responder ao primeiro-ministro (ou ao secretário-geral do PS, nunca se sabe bem) mantendo a questão do TGV no topo das preocupações dos portugueses. Preocupações que não serão, necessariamente, as dos que ali estavam a recebê-la. Ali no cumprimento de uma obrigação partidária, o presidente da Câmara de Fronteira, Pedro Namorado Lancha, ia-nos falando das perspectivas de reeleição, no mês que vem, mas soltou um desabafo: "Ando nisto há 16 anos, e nenhum Governo teve uma verdadeira política para o Interior".
"Não vou ter tempo para fazer termalismo", diz a presidente do PSD, que introduziu na retórica a cada vez mais firme convicção de que será primeira-ministra de Portugal. Ora, as pessoas que a recebem, em Cabeço de Vide ou noutro sítio qualquer, pedem, apenas, que haja tempo para elas, sem que seja apenas de quatro em quatro anos.