<p>A população de Ermelo, em Mondim de Basto, despertou ontem, domingo, com a notícia da quase que anunciada tragédia que se abateu sobre a terra. O candidato à Junta pelo PS matou a tiro o marido da candidata pelo PSD.</p>
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"Não acredito no que aconteceu em Fervença... Não posso aceitar, morreu em defesa do povo". A revolta de Maria da Glória Nunes ecoava pelo empedrado da rua estreita que ontem se encheu de gente, em Ermelo, Mondim de Basto. Para lá foram alguns dos da terra, dos que apoiavam Maria da Glória, candidata do PSD, na luta pela Junta de Freguesia contra o adversário socialista, António Cunha, que ontem, manhã cedo, lhe matou o marido.
Agora se sabe, a luta era real. Dessas que dividem terras, famílias, com discussões, quezílias, queixas e ameaças, dessas que separam aldeias com poucos centos de gente. As contas são simples para quem delas faz parte e tudo se resume a "nós, os bons" e "a seita deles". Ontem, soube-se, que era real o combate, pouco passava das sete da manhã, quando ainda se ultimava a abertura da assembleia de voto de Fervença.
"Trazia a arma encostada à perna, não proferiu palavra, passou pelas pessoas e alvejou o marido da presidente da Junta, Maximino Clemente. Disparou e pôs-se em fuga", contou Manuel António, membro da mesa de voto. A essa hora, Filomena Silva esperava que Fernanda, filha de Maria da Glória e de Maximino, lhe servisse o café da manhã, cá em baixo, no restaurante em Ermelo. Era cedo e queria ficar despachada, que ontem ainda regressava a Lisboa. "O telefone tocou e já nem tirou os cafés... Começou a gritar: o meu pai está morto, o meu pai está morto", recorda Filomena, olhos rasos de lágrimas, coração vazio, enquanto esperava a boleia para Lisboa. "Tenho uma mágoa que levo aqui dentro".
"Quando vi o povo em camisa de dormir na rua, achei que tinha havido um acidente. Nunca pensei que fosse o meu marido", conta Maria da Glória, discurso sincopado de soluços e tristeza. Foi eleita presidente da Junta de Freguesia de Ermelo pela primeira vez há quatro anos. "Ele nem queria que me candidatasse outra vez", lamenta Maria da Glória, que ainda não decidiu se mantém a candidatura.
Os cartazes da campanha pendem no cimo dos postes de Ermelo, escondida ontem atrás das janelas fechadas das casas. Lá do cimo, o slogan de campanha de António Cunha deixa adivinhar a tensão vivida durante a campanha: "Ermelo não pode ter medo".
A GNR e a PJ localizaram, ao início da tarde, o carro de António Cunha e a alegada arma do crime, em Peso da Régua, mas não conseguiram encontrar o suspeito. As buscas continuam hoje.