<p>Em Democracia, o país foi governado, até 1987, por executivos que seformaram com base em acordos e coligações, mais ou menos engenhosas. </p>
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Coligações naturais, acordos contra-natura, alianças sem sentido, acordos pontuais e de regime. Todo o tipo de "engenharias" foi usado pelos partidos para contornarem o peso eleitoral insuficiente para formaram governos de maioria absoluta.
Governar sem maioria absoluta, com base na negociação à Direita e à Esquerda, era a regra em Portugal. Até que Cavaco Silva, pouco dado a negociações políticas, chega à liderança do PSD. Corria o mês de Maio de 1985 e o seu partido estava aliado com o PS num equilíbrio instável de Governo.
O novo presidente dos sociais-democratas rompe a coligação e ganha, com maioria relativa, as eleições de 1985. Queixava-se amiúde das "forças de bloqueio", como o Tribunal de Contas, liderado por Sousa Franco, que não o deixavam governar. Cai, ao fim de dois anos, com a aprovação de uma moção de censura apresentada no Parlamento pelo PRD, o partido de Ramalho Eanes, que servia de charneira entre a Direita e a Esquerda. Foi o pretexto político que Cavaco ansiava para partir à conquista da primeira maioria absoluta. Conquistou-a em 1987, no final de uma campanha centrada no "Deixem-nos trabalhar!" e contra a instabilidade governativa que tinha marcado os primeiros anos de Democracia.
Dez anos depois, António Guterres conquista para o PS 112 dos 230 deputados e governa toda a legislatura com a tranquilidade dos acordos pontuais, ora à Direita ora à Esquerda.
Curiosamente, é já no seu segundo Governo, quando falta um deputado ao PS para conseguir a maioria parlamentar, que fica com a corda na garganta e tem de negociar com o deputado do CDS-PP de Ponte de Lima, a aprovação do Orçamento de Estado. Sai para evitar o "pântano", depois de o PSD ter ganho as eleições europeias. É assim que Durão Barroso chega ao poder, também não absoluto, e faz um acordo com o CDS-PP, herdado em 2004 por Santana Lopes, cuja errância governativa levou Sampaio a dissolver a Assembleia da República. Mais uma vez, era possível a um líder pouco vocacionado para negociar, usar o argumento da instabilidade para pedir uma maioria. José Sócrates fê-lo e conquistou a primeira maioria absoluta para o PS, em 2005.