Os candidatos presidenciais Defensor Moura e Francisco Lopes, no último debate televisivo em que participaram, concordaram nas críticas ao Presidente da República e na condenação da nacionalização do BPN.
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No debate televisivo transmitido pela TVI, ambos os candidatos apontaram responsabilidades de Cavaco Silva no combate à corrupção.
"O clientelismo e a corrupção são tolerados pelos portugueses, desde o mais baixo nível, da cunha, até ao alto negócio das parcerias público privadas e do BPN. O Presidente da República tem um papel muito importante nisto, que é o exemplo - tem de ser intolerante e não deve pactuar com negócios ilícitos, favorecimentos. Deve ser isento, deve ser leal e isso é uma coisa que o actual presidente da República [Cavaco Silva, que se recandidata ao cargo] não tem sido", sustentou o deputado do PS Defensor Moura.
Já para Francisco Lopes (apoiado pelo PCP e Verdes), o chefe do Estado tem o dever de procurar um entendimento entre os partidos "para acabar com as injustiças sociais e a corrupção e o nepotismo", criticando o "domínio do poder económico sobre o poder político" que disse existir actualmente.
Dissolução da Assembleia será "uma arma final"
Em caso de eleição, o candidato comunista afirmou que usaria "todos os poderes do presidente da República para um outro entendimento, para influenciar uma mudança política, no sentido do desenvolvimento nacional, patriótico e de esquerda".
Já o antigo presidente da Câmara de Viana do Castelo considerou que a instabilidade governativa "não é boa para a democracia nem para a credibilidade do país" e garantiu que, como presidente, procuraria garantir entendimentos entre os partidos, colocando a dissolução da Assembleia da República como "uma arma final".
"Durante este ano, o presidente da República teve uma actuação muito abstencionista, com certeza preocupado com a sua reeleição. Devia fazer todo o esforço para criar um acordo estável que permitisse a governação num ano tão difícil como este", disse Defensor Moura.
BPN, "um escândalo nacional"
Ambos os candidatos criticaram que na nacionalização do BPN não tenha sido abrangida a Sociedade Lusa de Negócios (SLN).
Para o deputado do PS, "deixar de fora a SLN foi um erro do Governo que vai custar muito ao erário público".
O ex-autarca defendeu uma "avaliação real e definitiva", admitindo como soluções "a anexação à Caixa Geral de Depósitos, a dissolução, deixar falir, acabar aquilo de uma vez, porque não podemos continuar a delapidar o dinheiro dos contribuintes neste processo, que é ridículo".
Francisco Lopes disse ser "um escândalo nacional ter havido uma decisão de acordo entre o Governo PS e o presidente da República", ficando de fora "um património imenso que ficou para os accionistas do BPN, deixando para o erário público esta colossal soma que parece não ter fim".
Os dois candidatos criticaram a nova lei de financiamento dos partidos, mas por motivos diferentes: Defensor Moura contestou que se continue a permitir a entrega de "dinheiro vivo", ao passo que Francisco Lopes considerou que a legislação "coarta a liberdade de organização partidária".