A luz do final de tarde não permite a perfeita fruição do som de Caribou, mas é um aquecimento respeitável para o concerto mais aguardado da 6.ª edição do Optimus Alive: Radiohead.
Corpo do artigo
Antes de Caribou, e dos três músicos que o auxiliam ao vivo, foi a vez de os quatro rapazes dos The Kooks mostrarem os seus dotes. Animadas canções a deslizar entre o pop e o rock e a vivacidade de Luke Pritchard fazem metade da festa.
O público, como não poderia deixar de ser, corresponde a tanto estímulo. A banda agradece: "Vocês são óptimos. Obrigado". A curta discografia da banda foi percorrida neste regresso aos palcos portugueses, com êxitos como "Sofa song", "She moves in her own way", "Shine on" ou "Ooh la" a não falharem o alinhamento e a serem celebradas pelo público que já começava a encher a área do palco principal. Para o final "Junk of the heart" e "Naive".
No meio das muitas t-shirts alusivas a Radiohead, também o rosto de Thom York se passeia pelo recinto, estampado no peito de quem não se contenta com o merchandising mais banal.
A imponente bateria siamesa dos Paus foi a primeira a impor-se no último dia de Optimus Alive. A banda portuguesa trouxe as músicas do seu disco de estreia, homónimo, mas não esqueceu canções como "Pelo pulso", "Meter as mãos à boca" ou "Mudo e surdo", do EP "É uma água", que os deu a conhecer em 2010.
Joaquim Albergaria e Hélio Morais são as feras atrás da siamesa. Desferem golpes consecutivos com as baquetas nos tambores e pratos e produzem um som absolutamente selvagem, adensado pelo baixo de Makoto Yagyu e pelos dedos de João Pereira a percorrerem os teclados.
Não há como não vibrar com o que emana daquele palco. Na primeira fila, há fãs de Paus com cartazes e muitos braços no ar quando Makoto ou Hélio mergulham na multidão de início de tarde. "Tronco nu" foi antecedida por um apelo nesse sentido, mas ninguém ousou desnudar-se. Joaquim Albergaria não se ficou com essa nega, voltando a insistir a caminho de "Pelo pulso", a última canção partilhada no palco do Alive: "Sei que a maioria de vocês aí à frente já viu o meu "cofrinho"". Mas nem assim se viu um tronco nu por estas bandas.
A grande atração do último dia no palco Heineken é Mazzy Star, mas antes ouve tempo para ouvir vozes femininas com Warpaint. Emily Koka é intensa e começa a cantar ajoelhada sobre os sintetizadores, que lhe ornamentam a voz. Depois de terem atuado no ano passado em Paredes de Coura, desceram a sul para encantar fãs e curiosos que se iam ficando por ali a ouvir as canções das norte-americanas.
As guitarras de Emily e Theresa Wayman juntaram-se à beira do palco, num namoro breve que deu início a "Stars", canção retirada do EP de estreia do quarteto feminino, "Exquisite Corpse" (2008). Seguiu-se "Composure", do primeiro disco da banda, "The Fool" (2010), e aplausos embevecidos.
Para além de ser a mais sexy e apetecível mulher de todo o festival, a Hope Sandoval é um mimo tremendo. Diz-se que é mulher de um dos tipos dos Jesus & Mary Chain, que pena. Ela surgiu em cena a bailar uma pandeireta em choque na perna linda - e da sua boca soltou-se aquele murmúrio sexy. "Ghost highway" ou "Ride it on" foram momentos altos. E houve tantos outros.
Um festival não é propriamente o habitat desta banda que esculpe um som pleno de subtilezas mais dado a espaços fechados - mas resultou ali, sim, ainda que muita gente já estivesse a stressar com o facto do concerto dos Radiohead estar prestes a começar. É urgente e sensato trazer Mazzy Star a uma sala fechada.