Distraída à conversa com José Eduardo Martins, cabeça-de-lista por Viana do Castelo, Manuela Ferreira Leite não terá percebido que, ao fazer o curto trajecto entre a Avenida dos Combatentes da Grande Guerra e a Praça da República, estava no paraíso.
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Pessoas que passavam por ela sem nela repararem, outras que a viam mas não se lançavam à conquista de troféus transmutados em beijos e abraços. Nem a espessa nuvem de repórteres que sempre a envolve estava ali naquele momento.
Começava a ronda minhota com a participação no programa Fórum TSF, feita a partir de um café da cidade, as pessoas - zés pereiras de Santa Marta de Portuzelo e os "jotas" do costume incluídos - iam-se juntando à porta, mas só à saída começaria a confusão. Em município onde a Câmara, curiosamente, é socialista, nota-se que a líder do PSD caminha em terreno favorável. E sendo o Minho uma região historicamente conservadora, o termo da arruada que se seguiu era ideal: visita ao Gabinete de Atendimento à Família, uma IPSS da iniciativa da Ordem dos Padres Carmelitas.
Não estavam os valores tradicionais, porém, na ordem do dia. Todos os jornalistas, este incluído, queriam saber das polémicas do dia, envolvendo a distrital de Lisboa ("factos que desconheço", havia dito na rádio e repetiu depois), levando a candidata a uma moderada exasperação. "Os portugueses, quando acordam, de manhã, não estão a pensar nestas questões", disse, admitindo que sente dificuldades em fazer chegar aos cidadãos as ideias que defende, mas garantindo que não mudará o discurso: "A minha mensagem há-de passar, pois as questões das pessoas é que têm de estar no centro das nossas atenções".
Há que reconhecer que a líder do PSD não tem sido muito beneficiada pelo que é hoje o tempo da informação, imediatista e frenético. Ontem mesmo, uma declaração que fez no programa de rádio foi imediatamente transformada em notícia, mas de forma distorcida: passou-se a ideia de que, se na altura soubesse que estaria hoje a candidatar-se a primeira-ministra, não teria concorrido à liderança do PSD, quando o que disse, efectivamente, foi que, se o sonho dela fosse ser primeira-ministra (se fosse movida pela ambição), aquela teria sido a altura errada para se candidatar a presidente do partido, pois o momento era de dificuldade e as perspectivas pouco animadoras.
Não cabem aqui, claro, considerações sobre a bondade de tais palavras, mas parece notório, no terreno, que o principal problema com a candidata é a dificuldade de produzir declarações bombásticas. Como dissemos, movimenta-se agora em terreno favorável (se bem que toda a volta seja programada para que nunca pise território hostil). Mais pessoas vão ter com elas, anda de loja em loja para que as câmaras registem as imagens (as floristas são um clássico), vêem-se, pelos percursos calcorreados a pé, varandas e janelas com gente entusiasmada.
Mas é notório que, à saída da dita IPSS, não conseguiu falar da família como pilar estruturante da sociedade, ideia que lhe é querida. Como não foi fácil transmitir a necessidade de estimular o tecido empresarial, designadamente no vale do Cávado (visitou uma fábrica em Barcelos). Como não tem conseguido amplificação mediática para as sessões de esclarecimento que vai protagonizando (ontem foi em Vila Verde), pois tem optado por repisar sistematicamente as mesmas questões. Sem gerar "sound bytes", como fica bem dizer-se.