Flash interview com João Pereira Coutinho, 33 anos, professor e comentador político.
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A política devia aprender com o futebol e fazer um estágio algures e uns quantos jogos amigáveis antes da competição?
Seria apropriado, desde que os políticos não ficassem em hotéis de luxo e não fizessem jogos contra amadores. Os estágios seriam no país real, em habitações suburbanas, com o salário mínimo, o caos habitual dos transportes públicos - e, no final da jornada, um jogo nada amigável contra a equipa do Ministério das Finanças e a sua táctica predilecta: para o bolso dos contribuintes, marchar, marchar.
Numa eventual remodelação, quem seria o Zé Castro do Governo?
No estado em que o governo está, as remodelações já não chegam. É preciso uma chicotada psicológica.
Pedro Passos Coelho é o reforço de que o país precisa?
O país, não sei. Mas a equipa do PSD parece que anda contente com as exibições.
Por quantos anos deveria assinar e em que posição?
Pedro Passos Coelho devia assinar por quatro anos e, ao contrário dos últimos craques (Durão, Santana, provavelmente Sócrates), sem cláusula de rescisão para sair a meio da temporada. A posição, no estado em que o país se encontra, parece-me óbvia: a do imortal "carregador de piano".
Agora que a ministra da Educação autorizou a passagem directa do 8º para o 10º ano de escolaridade, acha que os jogadores, beneficiando deste atalho, vão aprender a falar sobre eles próprios sem ser na terceira pessoa?
Creio que sim: com o diploma do 10º ano, deixarão de falar na terceira pessoa e passarão a usar o plural majestático.
Figo, recordista de internacionalizações pela Selecção, disse acreditar que Portugal pode ganhar. E nele, acha que alguém acredita?
Acho que o país acredita tanto no Figo quanto na capacidade da Selecção Nacional para ser campeã do mundo de Futebol.
Dois dias depois desta declaração de Figo, Sócrates veio dizer o mesmo, que acredita que “a Selecção pode vencer qualquer equipa”. Acha que combinaram ao pequeno-almoço?
Não acredito. O último que tiveram foi francamente indigesto.
Tendo dito isto, será de usar como referência os resultados da Selecção no Mundial para aferir a convicção do primeiro-ministro nas declarações que tem feito sobre a evolução da crise?
Se a sabedoria do primeiro-ministro em relação à Selecção Nacional é tão apurada como em relação ao combate à crise, Portugal não vai passar a primeira fase.
A distância que vai de Queiroz a Scolari é igual à que vai de Manuel Alegre a Cavaco Silva?
Não creio: o prof. Queiroz, quando fala, é melhor poeta do que Alegre. E vice-versa: sempre disse que Alegre é um talento perdido para o futebol.
E a expectativa de a Selecção portuguesa poder vir a ser apoiada pela África lusófona parece-lhe tão esquizofrénica como alguns dizem ser o apoio conjunto do PS e do BE a Alegre?
Não vejo esquizofrenia nenhuma: em ambos os casos, o apoio explica-se pela mesma razão. Amnésia. Seja colonial ou política.