Longe vão os tempos em que a desorganização era imagem de marca das selecções africanas. A Costa do Marfim tem um núcleo de observadores topo de gama, ao ponto de saber a direcção de todos os penáltis marcados por Cristiano Ronaldo.
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O ponto alcançado pela equipa de Sven-Goran Eriksson frente a Portugal não é obra do acaso. A forma como a selecção marfinense bloqueou as investidas dos portugueses, que raramente criaram perigo, resulta de um imenso trabalho invisível feito na retaguarda, que o treinador sueco interpreta e aplica no treino diário com os seus jogadores.
“Até eu fiquei admirado, com a quantidade e qualidade dos compactos sobre os adversários”, explica, ao JN, Toni, que está a operar no departamento de observações da selecção africana. Ontem, o treinador campeão pelo Benfica assistiu à vitória do Brasil frente à Coreia do Norte (1-0), e o mesmo fez José Alberto Costa, membro da equipa técnica de Carlos Queiroz.
As missões de “espionagem” durante a competição são apenas um detalhe, sem dúvida importante para os treinadores terem mais um documento para explorar, mas a maior parte do material estava já recolhido antes do arranque do Campeonato do Mundo. São dezenas de CD’s com lances-tipo, esboços tácticos e movimentações esquematizadas no papel, tudo susceptível de gerar pistas que, depois, são criteriosamente passadas aos jogadores, consoante a importância que têm na mecânica do adversário.
Todas as selecções, no futebol actual, têm um departamento destinado a gerir estes ficheiros secretos, uma vez que, numa prova marcada pelo equilíbrio, qualquer pormenor pode fazer a diferença. O que muda em relação ao passado é o facto de as federações que, como as africanas, descuravam estes aspectos, recorrerem a profissionais experientes como Toni. “Não vim para observar Portugal”, sublinha. “A Costa do Marfim possuía toda a informação sobre a equipa das quinas. Sabe como e para que lado Cristiano Ronaldo marcou as últimas 20 grandes penalidades? Não? Pois eu, agora, sei”, explica, ao JN, Toni.
O técnico português seguiu a estreia do conjunto de Carlos Queiroz pela televisão e entende que o jogo decorreu na linha de quase todos os disputados nesta primeira jornada do Mundial de 2010. “As equipas pareceram-me mais preocupadas em não perder do que em vencer a partida. Tem sido neste início de competição”, completa.
Questionado sobre a importância do seu trabalho no ponto conquistado pela Costa do Marfim, Toni devolve um lacónico “perguntem a Eriksson”, recordando a intensa recolha de dados efectuada pelos marfinenses antes de ele próprio começar a colaborar com o sueco.
Toni estará, hoje, em Port Elizabeth, muito atento ao Espanha-Suíça, selecções que podem cruzar-se com a Costa do Marfim, nos oitavos-de-final. O laboratório não pára...