A terceira força passou a quarta, mas mesmo assim Francisco Louçã assegurou que o BE atingiu os objectivos.
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Derrotar a maioria absoluta do PS era a bandeira dos bloquistas, mas o facto de terem ficado aquém do PP deixou-lhes um amargo de boca.
"O Bloco conseguiu derrotar a arrogância e o absolutismo do PS", disse Francisco Louçã, que iniciou a campanha eleitoral convicto de que o partido ia cimentar-se como a terceira força política do país. O CDS/PP acabou, no entanto, por se superiorizar, o que deixou os bloquistas "abalados" e sem conseguirem alcançar os desejados "dois dígitos".
"O Bloco de Esquerda subiu mais de 200 mil votos. Nunca nenhum partido tinha subido tanto em termos percentuais. Os objectivos foram conseguidos e não voltará a ser possível ao PS procurar impor um sistema de Segurança Social que degrade a vida das pessoas, sem saber que tem na sua frente uma Esquerda muito mais capaz e representativa", afiançou.
Uma possível aliança entre o PS e o PP não agrada a Louçã, que, ironicamente, lhes desejou "sorte". "Se o CDS e PS se vão entender é lá com eles. A sua união deu resultados desastrosos e políticas de queijo 'limiano'. Não é a melhor resposta para o país. Mas desejo-lhes a maior sorte", avançou. Sobre um eventual entendimento pós-eleitoral com o partido do Governo, Louçã quis manter a toada da campanha: "Nenhum eleitor do BE terá qualquer dúvida de que o seu voto é de fidelidade ao programa do Bloco. Outros eleitores, de outros partido, poderão questionar-se". O BE conseguiu eleger, precisamente, o dobro dos deputados (16), o que muito agradou ao líder, ainda para mais quando elegeu em distritos pela primeira vez, como em Santarém Aveiro, Braga, Faro, Leiria e Coimbra. "Elegemos em distritos que ainda não tinham voz no Parlamento", acentuou. Louçã quis, ainda, lembrar o "colapso da Direita" e comparar: "Hoje o PSD está ao nível de Santana Lopes", atirou.
"E agora? O que acontece a partir de agora?". Louçã quis responder com todo o optimismo que lhe foi possível: "Começa um novo dia para a Esquerda portuguesa. Retirar a maioria absoluta ao PS é muito importante e é importante que isso faça uma grande diferença na política nacional".
Muitos sorrisos e um "fantasma" à Direita
Nervoso miudinho. Roer de unhas. Batidas de pé constantes. Mas sorrisos, muitos sorrisos. Era assim o ambiente na sede improvisada do Bloco de Esquerda, no auditório da Faculdade de Medicina Dentária, em Lisboa, durante a noite de ontem. A cada nova projecção agitavam-se cadeiras e as bandeiras, claro está.
O Bloco crescia, o número deixava todos felizes, mas não sossegados. O espectro do CDS pairava. "Ai se eles ficam à frente..."; "Não estava nada à espera"; "Não pode ser possível", ouvia-se, amiúde, entre as poucas dezenas de apoiantes que se deslocaram à Cidade Universitária.
Entre uma ou outra cerveja, os olhos não se desviavam dos ecrãs. Ora os discursos dos opositores, ora a confirmação dos deputados bloquistas. Ruidoso, muito ruidoso, o contentamento quando na televisão se viu a confirmação de José Gusmão, por Santarém e Borges Soeiro, pelo Porto.
Luís Fazenda e Fernando Rosas abriram os discursos. Mesmo cautelosos, deixaram os presentes bastantes animados.
O candidato por Lisboa quis realçar o "papel de relevância" que os bloquistas vão passar a ter na Assembleia da República e a "arrogância" do PS que foi destruída pelos eleitores. Já o cabeça de lista por Setúbal não deixou de deixar os presentes emocionados quando referiu que o Bloco de Esquerda registou o "maior resultado eleitoral da sua história".
Francisco Louçã estava, aparentemente, tranquilo. No entanto, as suas emoções estiveram quase sempre resguardadas numa sala à parte dos demais.