Flash interview com Manuel Pizarro, 45 anos, secretário de Estado da saúde
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O Mundial faz bem à saúde?
O desporto é um bom factor para a saúde. O desporto de sofá, que é apesar de tudo o que pratica a maior parte dos adeptos é menos bom. Espero que o Mundial sirva de inspiração para que as pessoas façam mais exercício físico, que é bom para todos.
O médico da selecção argentina, Donato Villani, proibiu o álcool e aditivos aos jogadores, mas autorizou o sexo. Como médico, replicaria o conselho aos jogadores da Selecção Nacional?
O difícil mesmo é sempre definir a moderação. Álcool e sexo fazem bem à saúde e portanto também devem fazer bem à performance dos jogadores.
Acha que no futuro, haverá tantos jogadores estrangeiros em Portugal como já há médicos?
Em proporção, já há cá hoje mais jogadores nascidos no estrangeiro do que médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Eu acho que nós precisamos de arranjar uma forma de, em todos os sectores, valorizarmos mais aquilo que é a principal riqueza do país, que são as pessoas.
Com directores do SNS a ganharem prémios de 130 mil euros, é caso para dizer que a saúde já está ao nível do futebol?
Mas há directores de hospitais a ganharem 130 mil euros de prémio?! Que eu saiba, não há.
De que precisa o SNS para passar aos oitavos de final? Ou nunca sairá do estágio?
Na última classificação feita pela Organização Mundial de Saúde, o SNS estava em 12º lugar. Isto é estar dentro dos oitavos de final, que tem 16 equipas. Talvez a luta para chegar aos quartos de final seja mais complexa e exige seguramente de todos um grande esforço de organização e de trabalho. Mas nos oitavos de final já estamos.
A FIFA aumentou os controlos-surpresa antidoping aos futebolistas do Mundial. Consegue imaginar o resultado de uma despistagem semelhante, por exemplo, na Assembleia da República?
Não acho que a Assembleia da República seja assim tão imaginativa que nos leve a suspeitar de um consumo exagerado de substâncias menos lícitas. Em todo o caso, acho que o dopping é a face mais negra do desporto profissional. Portanto, todas as medidas para o combater são bem vindas.
A Oposição está para o Governo como a bola do mundial para Queiroz: "É muito rápida, mas com trajectórias imprevisíveis, pelo que temos de melhorar o controlo para melhorar o nosso jogo”?
Os problemas com o que o Governo se defronta têm muito pouco que ver com a Oposição ou com uma eventual rapidez ou trajectória anómala. Tem que ver com enfrentarmos uma situação que é objectivamente difícil, porque estamos a jogar um jogo - em todo o mundo e em particular na Europa - com regras que apresentam muitas novidades. É um jogo que exige de todos um grande empenho e também um bocadinho de imaginação. A dificuldade está aí; não está na Oposição.
Quem é o Deco da política portuguesa, o jogador que espalha magia?
Claramente, José Sócrates. Não tenho dúvida nenhuma sobre isso. Aliás, vê-se logo pela maneira como todos lhe querem ir às pernas.
E quem corre como Cristiano Rnaldo?
Manuel Alegre. Pelo menos, nos últimos tempos. Correndo como Ronaldo, conseguiu fazer um pouco o jogo da política portuguesa à dimensão do que foi a sua determinação.
Concorda com Pacheco Pereira quando ele diz que “o futebol patriótico é o ópio mais eficaz dos dias de hoje”?
Eu quase nunca, a não ser em questões de análise histórica, estou de acordo com Pacheco Pereira. Ele mantém intactas as concepções totalitárias que lhe alimentaram a juventude. E é por isso que ele tem tantos problemas com o que se passa no mundo, inclusive com o futebol.