Wayne e Lambeti provavelmente não se conhecem. Têm a mesma idade e vão ao mesmo reduto comprar material para vender nos semáforos. Os "robots" de Joanesburgo estão apinhados de bandeiras de países que nem sonham onde ficam.
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Todas as manhãs, ou quase todas, quando os dias são de fraco escoamento, Wayne, 22 anos, e Lambeti, 23, ambos moradores no Soweto, o bairro mítico nos arredores da cidade, dirigem-se à "Chinatown" de Joanesburgo, com a superior missão de regatear com os chineses as melhores margens de lucro. Dificilmente conseguem ganhar mais do que 10 rands sul-africanos (cerca de um euro) em cada peça adquirida aos asiáticos. E basicamente quando se trata de exemplares de maior porte - uma bandeira grande pode custar 100 rands (10 euros). O preço também varia em função da cor da pele do comprador.
Um e outro, separados por cerca de dois quilómetros, partilhavam uma particularidade: a bandeira que esvoaçava com mais força nos seus braços negros era a das quinas. Não que Wayne e Lambeti nutram um carinho especial pelo país de Camões e de Pessoa (nenhum deles sabe, de resto, onde fica esse território chamado Portugal), mas por mera ditadura de mercado: as bandeiras lusas são das mais apetecíveis.
Devido ao fenómeno Ronaldo (se dúvidas houvesse, há um cartaz com mais de dez metros de altura com a sua cara estampada a adornar um prédio do centro da cidade a comprová-lo), por haver muitos portugueses emigrados e por haver, também, muitos moçambicanos de coração dividido.
Dinheiro fácil
Wayne e Lambeti vendem bandeiras para ganhar a vida. Dão graças a um mundial de futebol que só conseguem espreitar pelo televisor por lhes dar esta oportunidade. E quando o Mundial acabar?, perguntámos aos dois. Wayne: "Logo se vê". Lambetti: "Não sei".
Os vendedores de bandeiras e de outros artefactos alusivos à competição que está a ter lugar na África do Sul são quase todos negros (se não todos, mesmo), jovens e desempregados. Buscam dinheiro fácil, sem descontos, sem impostos, sem chatices.
Wayne e Lambeti, como tantos outros, dão um colorido especial às ruas do país do mundial. Mas quando a festa acabar ficarão só os braços. Negros. E desempregados. As bandeiras já ninguém as quer.