Um Nick Cave em íntima comunhão com a plateia, indiferente aos problemas de som que atrapalharam o concerto. Foi assim a passagem do celebrado músico australiano pelo primeiro dia do Primavera Sound, marcado pelo frio no recinto
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O que teria sido o concerto de Nick Cave - o nome mais esperado da primeira noite do Primavera Sound - sem os arreliadores problemas sonoros que o rodearam, jamais o saberemos com exatidão.
Do que não restam dúvidas é que nem essas óbvias interferências, desvalorizadas por um público sequioso de ouvir o seu ídolo, fizeram diminuir o empenho do ex-punk convertido em 'crooner', que recorreu a todo o seu manancial de talento performativo para tornar o concerto no mínimo satisfatório.
A missão acabou por ser bem sucedida, por muito que tenha custado ver temas marcantes do seu reportório perderem o impacto devido às já citadas deficiências sonoras.
Problemas técnicos à parte, a maior surpresa residiu no alinhamento, com a escolha de temas que por norma não fazem parte das atuações dos Bad Seeds, como "Tupelo", não por acaso um dos pontos altos da noite.
Optando por uma versão mais crua e menos orquestral dos seus temas, Cave colocou ênfase na interpretação e performance, enleando-se com mestria numa assistência de imediato seduzida aos seus encantos.
Também australianos, mas num registo diametralmente oposto, os Dead Can Dance trouxeram ao festival um raro interúlio espiritual. É discutível que as sonoridades apaziguadoras de um festival de grande dimensão apresentem o formato ideal para se fruir a música transcendental e onírica de Brendan Perry e Lisa Gerrard, mas o risco acabou por ser parcialmente compensado com temas em que o duo conseguiu fazer da imensidão do palco um reduto familiar. Talvez demasiado longo, o concerto pode até ter passado à margem de boa parte da plateia, mas a possibilidade de ouvir duas vozes de excelência como as de Perry e Gerrard relega para segundo plano quaisquer outras desvantagens que possa ter havido.