Às 12.30 horas, estavam quase todas à porta da fábrica. Cerca de 200 funcionárias da Califa, em São João da Madeira, esperavam por Jerónimo de Sousa. Estavam à espera de uma palavra, porque têm dois meses de salários em atraso e um subsídio de férias em falta.
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Há casos dramáticos nesta empresa têxtil, onde todos esperam uma solução milagrosa. "Não conseguimos viver assim. Tenho uma prestação mensal de 500 euros de casa e vivo só com o ordenado do meu marido", disse Sandra Matos, 34 anos, funcionária da empresa há 20 anos, que recebe 452 euros por mês. O secretário-geral do PCP cumprimentou-as, transmitiu-lhes confiança e criticou a acção do Governo e da própria Banca: "Perante o processo de insolvência, o Governo entregou a empresa a uma instituição bancária e não se preocupou com os vossos direitos". Há situações difíceis, sobretudo para quem tem filhos em idade escolar e já sentiu na pele o preço elevado dos manuais de estudo. "É preciso ter imaginação para ter dinheiro", conta Sandra, que diz não ter "motivação para trabalhar". Porque sabe que não recebe. Jerónimo de Sousa fez um discurso emocionado, sublinhando que a "Califa faz falta a Portugal e ao desenvolvimento económico", destacando que, "de todos os grupos parlamentares, só a CDU se lembrou dos problemas" dos funcionários, mesmo não tendo um deputado no distrito. Enquanto falava, as trabalhadoras registavam cada palavra. "O patrão até tem muitas encomendas, mas não conseguimos viver assim. Tenho medo de ir para o desemprego, porque vai ser difícil arranjar emprego na região", explica a trabalhadora.
A indústria na Zona Centro está decadente, há outras funcionárias que relatam os problemas, mas fazem-no sob o manto do anonimato. "Trabalho aqui desde os 13 anos e tenho 35 anos de casa. Não tenho medo de ir para o desemprego", adianta uma mulher, de 48 anos, casada e com dois filhos em idade escolar. "Ao menos sei que me pagam a tempo e horas". Se as funcionárias não receberem o mês de Agosto até ao dia 25 deste mês, entram em greve. "Quando se luta pode-se perder, mas quando não se luta perde-se sempre".