O regresso dos Radiohead era o momento mais aguardado da edição deste ano do Optimus Alive e a banda ofereceu um espetáculo memorável aos 55 mil que lotaram o Passeio Marítimo de Algés.
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As expectativas eram imensas. Dez anos depois, os Radiohead voltaram a pisar os palcos portugueses, com uma atuação surpreendente, onde não houve direito a êxitos óbvios como "Creep", "Karma Police" ou "Fake Plastic Trees". Para quem vinha à espera de ouvir os sucessos que cimentaram a popularidade da banda e fizeram crescer a legião de fãs por todo o mundo, ficou a surpresa de um alinhamento único, diferente, até, daquele que a banda tem apresentado nos últimos concertos desta tournée.
O passado está no seu lugar e foi a banda do presente que conquistou, sem facilitismos, o público que durante mais de duas horas não arredou pé do palco principal do Alive.
"Bloom", "15 Step" e "Morning Mr. Magpie" foram as primeiras canções a ecoar no recinto, mas foi "Pyramid Song" a primeira a ser recebida em braços pelo público, que oscilava entre a excitação de reconhecer cada tema aos primeiros acordes e a contemplação do que acontecia em cima do palco. Visualmente, o espetáculo foi igualmente estimulante, com ecrãs a mostrarem imagens de Thom Yorke, Jonny e Colin Greenwood, Ed O'Brien e Phil Selway - em palco coadjuvados por Clive Deamer -, no meio de elaborados efeitos de luz, desenhados à medida de cada tema.
Muitas das canções apresentadas esta noite foram importadas dos últimos trabalhos da banda britânica - " The King of Limbs" (2011) e "In Rainbows" (2007) -, mas não faltou uma viagem a "Kid A" (2000), "Ok, Computer" (1997) ou mesmo a "The Bends" (1995), trazendo para o palco uma outra vida do grupo, que agora se dedica à experimentação pelos trilhos da eletrónica.
O público recebe com idêntico entusiasmo canções tão díspares como "Exit Music (for a Film)" e "Lotus Flower" - uma atrás da outra -, prova de que à banda de Thom Yorke tudo é permitido. E ao vivo é mais fácil perceber porquê: o estilo evoluiu, mas a essência está lá, presa na voz de Thom Yorke, na complexidade de cada canção.
Para o primeiro encore, Yorke reservou a venerada "Paranoid Android", "Reckoner" ou "Everything In Its Right Place", coroadas no segundo round por "Street Spirit (Fade Out)", o momento mais longínquo a que a banda se permitiu ir esta noite.
Parco em palavras, Thom Yorke disse apenas o que todos queriam ouvir: "Dez anos é muito tempo. Espero que para a próxima seja menos". E numa sala, se não for pedir muito.