Nisto, "para o ano, há mais" não serve. Na verdade, é já a seguir. A preparação de um festival de Verão exige, além de variadíssimos e robustos meios, tempo. Muito. De nove meses a um ano. Começa no desejo por dada banda e finda com um suspiro, de alívio. Por já haver música.
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"O primeiro dia do Sudoeste 2010 foi o último da edição do ano passado", afiança Jwana Godinho, responsável pela contratação de artistas na Música no Coração, organizadora do festival da Zambujeira do Mar, o qual, com o de Paredes de Coura, forma o par de clássicos portugueses em termos de acampamento com palco no horizonte, agora que Vilar de Mouros se afeiçoou ao estatuto de vegetal.
Paredes de Coura (ver reportagem nas páginas seguintes) e Sudoeste estão, por consequência, na fase da instalação de estruturas - o festival minhoto arranca na próxima quarta-feira e dura até 31, o alentejano existe de 4 a 8 do próximo mês -, o que equivale a dizer que, presentemente, movimentam, entre eles, centenas de pessoas. Com tendência a aumentar.
"Quando o festival começar, são já cerca de mil as pessoas envolvidas. Indirectamente, implicamos mais ou menos 70 empresas", afirma João Carvalho, co-proprietário da Ritmos, eterna organizadora do "Paredes de Coura". No caso alentejano, o efectivo ronda as "1750" almas.
Note-se, contudo, que as bases permanentes da Música no Coração e da Ritmos são, por comparação, ínfimas: 20 na primeira, oito na segunda. Aposta-se na contratação temporária, portanto.
Ainda que Paredes de Coura necessite de menos tempo para enfrentar a edição seguinte ("nove meses", segundo João Carvalho), as etapas do processo são coincidentes. Definição de cartaz, que implica "negócios, investigação" - realça Jwana Godinho - e que é a parte mais "entusiasmante" para o responsável da Ritmos; angariação de patrocinadores e respectivas discussões e, por fim, a instalação da estrutura festivaleira propriamente dita.
Ambos os produtores revelam que o aspecto mais sensível do método é o da confirmação dos artistas. "É o mais incerto. Vamos conseguir ou não? Emocionalmente, é complicado", assegura João Carvalho. "Como é que se arranja um substituto quando alguém cancela? A três semanas do início do festival, torna-se difícil. Foi o que aconteceu com o Mika, por exemplo", acrescenta Jwana Godinho.
Por outro lado, o aparente emaranhado de aspectos a considerar na organização de festivais de Verão assemelha-se ao compêndio das ruas de Londres. Assuma-se a copiosidade e dê-se a palavra a quem sofre. Jwana Godinho: "Fazemos visitas regulares ao terreno, definimos a localização de cada estrutura, faz-se a florestação de certas zonas, as equipas vão chegando de forma cadenciada ao espaço, para colocar sanitários, palcos, bilheteiras e delimitar as áreas de campismo, de estacionamento...."
João Carvalho não tem de fazer a florestação dos terrenos - o verde Minho chama a si a responsabilidade. No entanto, além das outras tarefas enunciadas pela "booker" da Música no Coração, a equipa da Ritmos tem de delimitar as dezenas de campos que constituem o espaço do "Paredes de Coura", pois, ao contrário da produtora lisboeta, a minhota não é dona das propriedades onde dá guarida a milhares. "As vedações são colocadas talude a talude, campo a campo. É difícil garantir mobilidade a tanta gente".
Jwana Godinho não revela o orçamento intrínseco à empreitada, no que não é imitada por João Carvalho: "A média dos últimos anos tem sido dois milhões de euros".