20 anos da queda do Concorde: uma memória trágica e dois gigantes de asas encolhidas
Acidente que marcou o início do ocaso do Concorde aconteceu há duas décadas, em Paris. Várias companhias estão a retirar as superaeronaves Airbus A380 e Boeing 747 das frotas.
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Há precisamente duas décadas, em Paris, França, despenhava-se um Concorde. Além das 113 vidas que o acidente abreviou, o fim da era do avião supersónico ficou traçado. Em 2003, após algumas tentativas para recuperar o prestígio e, consequentemente, passageiros disponíveis para viajar no aparelho, a Air France e a British Airways - as únicas companhias que possuíam exemplares de uma das mais extraordinárias máquinas da História - terminaram com os voos comerciais daquela aeronave, 27 anos após o primeiro. O hiperbólico consumo de combustível e o ruído brutal também não fizeram muito pela viabilidade financeira da aventura. A efeméride relativa ao desastre (cuja génese foi uma peça de um DC10, outro avião mítico, deixada no chão do aeroporto Charles de Gaulle, na capital francesa) ocorre num momento em que outros dois aviões alegadamente "intocáveis" começam a ver os respetivos horizontes confinados ao hangar: o Airbus A380 e o Boeing 747.
No final do ano passado, a expectativa para os 247 aparelhos A380 era a de que voassem por mais um decénio. Desde então, o destino do maior avião de passageiros do Mundo - alcunhado de superjumbo - mudou drasticamente. Alteração na qual a pandemia de covid-19 não teve um papel menor.
Há cerca de um mês, a Air France foi a primeira companhia a retirar de vez os dez A380 que tinha na frota. Na altura, já a alemã Lufthansa tinha decidido a paralisação definitiva de metade dos superjumbos que tinha ao serviço, sete.
Outras companhias - entre elas, a British Airways - hesitam, mas não escondem que deverão manter as suas frotas de A380 inativas. Por exemplo, a australiana Qantas não deve deixar o gigante voar antes de 2022.
Em nome do ambiente
Por seu lado, as três mais proeminentes empresas do Médio Oriente ainda não encontraram solução para um problema não tão pequeno como isso. Se a Qatar Airways e a Etihad, dos Emirados Árabes Unidos, têm de descobrir como rentabilizar a dezena de A380 que cada uma delas possui, a Emirates - principal companhia do país - está perante uma frota de 114 potenciais focos de prejuízos. Até porque fazer voar um superjumbo vazio, ou quase, é tudo menos um bom negócio.
Há uma semana, a British Airways anunciou a retirada da frota de Boeing 747, com efeito imediato. Motivo: diminuição do tráfego de passageiros devido à pandemia. A empresa classificou o aparelho de "rainha dos céus". O reinado estará a findar.
O elevado consumo de combustível - barreira ao objetivo de zero emissões de carbono até 2050 - é outro dos problemas do avião norte-americano, bem como do europeu, na verdade.
A Lufthansa "encostou" cinco dos seus 32 Boeing 747, ato que a Qantas praticou em relação aos três que detém. A Korean Air utiliza apenas 12 dos 23 da sua frota.
Os Estados Unidos já lhe acenaram adeus em 2017, quando a Delta retirou a aeronave.
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Ruidoso
Na descolagem, o Concorde atingia um nível de ruído de quase 120 decibéis. O consumo de combustível cifrava-se nas 20 toneladas por hora.
Dispendioso
O preço de fábrica do Airbus A380 era de cerca de 400 milhões de euros. Os custos operacionais fixavam-se entre os 20 mil e 25 mil euros/hora.
Curioso
A companhia aérea australiana Qantas despediu-se do seu último Boeing 747 com um voo em que o piloto desenhou, no céu, a marca da empresa - um canguru.