Gangues das favelas, máfias italianas, maras salvadorenhas, cartéis mexicanos... Cresce a lista de novos solidários com a população mais afetada pelas medidas de contenção da epidemia de Covid-19.
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A expansão do coronavírus pelo Mundo obrigou a maioria da população a fazer uma adaptação rápida às novas rotinas. Os criminosos tampouco conseguiram fugir à pandemia e mudaram drasticamente a atividade: da ilegalidade, passaram para a ajuda à população mais prejudicada pelos efeitos do novo coronavírus.
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A máfia italiana entrou em cena para repartir alimentos porta a porta, os gangues das favelas do Rio de Janeiro assumiram a gestão local da pandemia para evitar que o vírus se espalhe pelas suas vielas labirínticas, as maras salvadorenhas passaram a policiar o confinamento, há relatos de ajuda alimentar dos cartéis mexicanos.
Os gangues das Favelas
Face à gestão errática das autoridades brasileiras - com o presidente a puxar para um lado relaxado e os estados para outro mais rigoroso -, os grupos criminosos decidiram agir por sua conta. Em favelas com milhares de habitantes em péssimas condições de salubridade, as ambulâncias não costumam chegar a tempo em caso de emergência. Era preciso uma atenção mais próxima, até porque a intensa circulação de pessoas se manteve. Graças a doações anónimas, nasceu a iniciativa de alugar ambulâncias preparadas para cuidados intensivos e contratar profissionais de saúde.
E, para um controlo mais efetivo, foi criada a figura de "presidente de rua", a quem cabe vigiar as 50 famílias mais próximas. Qualquer pessoa que apresente sintomas de Covid-19 avisará o "presidente", que convocará as ambulâncias e médicos contratados. Paralelamente, foi implementada a distribuição de alimentos porta a porta e uma organização de mulheres começou a fabricar máscaras para distribuir por ali.
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As Máfias italianas
A crise sanitária fez também ressurgir a máfia italiana. Apesar de o Norte do país ser a zona mais afetada pelo coronavírus, o Sul sente mais diretamente os efeitos da emergência sanitária e muitas famílias não conseguem abastecer-se de alimentos. Esta situação de alarme tem sido aproveitada pelas máfias napolitana (Camorra) e siciliana (Cosa Nostra) para exercer o bem: distribuir alimentos às famílias mais desfavorecidas. Mas estas atitudes solidárias podem esconder outro propósito: através da ajuda que agora estão a dar, esperam ser retribuídas com um maior apoio popular quando tudo isto terminar.
"Há muitas famílias desesperadas e as máfias estão a oferecer empréstimos com o objetivo de controlar empresas inteiras para depois as famílias serem obrigadas a pagar a dívida em votos ou dinheiro", analisa Nicola Gratteri, procurador da região do Catanzaro e especialista nas máfias, ao diário espanhol "El Confidencial".
As maras salvadorenhas
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Uma prática replicada em El Salvador, onde as maras, ou pandilhas, "importadas" de Los Angeles por força de deportações massivas de criminosos pelos EUA, impuseram, algumas vezes violentamente, o recolher obrigatório para garantir o respeito pelo confinamento - como fizeram os gangues brasileiros - e deixaram de cobrar a "renta" aos comerciantes, garantindo que mantêm o controlo apertado que instalaram nos seus bairros. E isto perante o absoluto silêncio do Governo.
Além disso, algumas maras copiaram a máfia italiana e ajudam a repartir alimentos à população. A mudança de azimute refletiu-se... nas estatísticas da criminalidade: 65 homicídios em março contra 114 em janeiro.
Os cartéis mexicanos
Uma caixa de cartão com a efígie do narcotraficante El Chapo, um saco com o nome de um grupo, comida dentro, ou bens de primeira necessidade. As imagens circulam há semanas na Internet e mostram o mundo do crime a adiantar-se no apoio à população mexicana, em mais uma demonstração de poder, comparável à das maras salvadorenhas. E com a devida propaganda à mistura, como se se tratasse de uma campanha eleitoral...