O receio de um ataque com armas biológicas cresce, sobretudo após o Pentágono ter alertado que as tropas russas se preparam para optar por este meio para devastar Kiev. José Palmeira, investigador do Centro de Investigação em Ciência Política (CICP), dá a sua perspetiva sobre este possível cenário.
Corpo do artigo
A Rússia acusa os EUA de financiarem armas biológicas na Ucrânia. Pode ser um pretexto para adotar esta conduta na guerra?
Acho muito difícil que haja o recurso a armas biológicas no atual contexto. Normalmente, esse tipo de armas não é usado em contexto urbano, onde o número de vítimas pode ser muito elevado. Essa opção iria levar o conflito para um nível inadmissível, porque até agora apenas tem sido usada artilharia. Por outro lado, não me parece que haja essa necessidade, pois a superioridade militar russa é tão elevada que julgo que o recurso a armas biológicas não seja necessário.
Mas os EUA afirmam que Moscovo se está a preparar para usar este tipo de armas em Kiev...
Sim, e quando na Europa se desconfiava da intervenção militar russa, os americanos avisaram que ia ocorrer. Na altura achamos que não aconteceria e aconteceu, portanto não se pode garantir a 100% que desta vez os russos não façam. Ainda assim, não me parece razoável, isso só iria piorar a imagem da Rússia perante a opinião publica.
Que consequências essa intervenção poderia trazer?
Os efeitos seriam muito mais letais, já que as armas biológicas matam sem destruir muito as infraestruturas. O uso dessas armas seria, eventualmente, provocar uma rendição imediata, porque a seguir a isso só resta o uso de armas nucleares.
O encontro falhado de ontem evidencia que o caminho das negociações pode estar a esgotar-se?
Lavrov fez questão de dizer que as reuniões que contam são as que ocorrem na Bielorrússia, o que dá a entender que a Rússia não estava interessada neste encontro. O Kremlin colocou as suas condições em cima da mesa e a Ucrânia ou aceita ou não. Mesmo que os ucranianos aceitem as exigências dos russos, Moscovo pode depois fazer pressão para que o Ocidente levante as sanções até agora aplicadas para que as tropas abandonem a Ucrânia. v