O presidente da Colômbia, que recebeu o prémio Nobel da Paz este sábado, disse que o acordo que pode pôr fim a meio século de conflito no seu país pode servir de modelo a outros países em guerra, como a Síria.
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O acordo assinado com a guerrilha marxista Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) pode servir de "modelo para a resolução de conflitos armados que continuam em todo o mundo", disse Juan Manuel Santos, no seu discurso após ter recebido o galardão.
O Governo de Santos assinou em 24 de novembro um acordo de paz com os guerrilheiros marxistas das FARC com o objetivo de pôr fim ao conflito que fez pelo menos 260 mil mortos, 60 mil desaparecidos e mais de 6,9 milhões de deslocados.
Para Juan Manuel Santos, este acordo de paz "prova que o que, à primeira vista, pode parecer impossível pode, com perseverança, ser possível, mesmo na Síria, no Iémen e no Sudão do Sul".
Contudo, esse acordo viria a sofrer um sério revés em 2 de outubro, quando os colombianos o rejeitaram em referendo, obrigando à negociação de um novo documento que incorpora as propostas dos partidos da oposição.
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O novo texto continua a prever, como o seu antecessor, o desarmamento das FARC e a sua transformação em movimento político.
Ainda no discurso hoje feito após receber o prémio Nobel, Juan Manuel Santos disse que o processo que está a acontecer na Colômbia abre a "possibilidade de o continente americano, do Alasca [nos Estados Unidos] à Patagónia [na Argentina] ser uma terra de paz".
Antes de receber o Nobel, Santos deu hoje uma entrevista à agência France Presse em que considerou que ainda será difícil o caminho até que a Colômbia seja uma terra de paz completa, já que será necessário um "muito grande esforço de coordenação para trazer os benefícios da paz para as regiões que mais sofreram com o conflito".
Além disso, também será preciso chegar a acordo com outra guerrilha, o Exército de Libertação Nacional (ELN), que Santos não se comprometeu a conseguir antes de deixar a presidência em 2018.
O ELN e o Governo começaram as negociações secretas em janeiro de 2014 para preparar a abertura de conversações oficiais, mas o processo tropeçou em detenções de ambos os lados.
"Sequestros, em particular de civis, não é algo aceitável (...) Dissemos-lhes para libertarem as pessoas raptadas antes de iniciarmos negociações formais", explicou o presidente colombiano na entrevista, recordando que para já a guerrilha ainda não cumpriu essa exigência.
Já o ELN reclama, por seu lado, a libertação de dois guerrilheiros presos.
A cerimónia de atribuição do Prémio Nobel da Paz decorreu na Câmara Municipal de Oslo, capital da Noruega, na presença dos reis do país e de membros do Governo norueguês, bem como de representantes das vítimas e ex-reféns das FARC, caso da franco-colombiana Ingrid Betancourt e de Clara Rojas.
O prémio consiste numa medalha de ouro, um diploma e um cheque de 8 milhões de coroas suecas (cerca de 824 mil euros), uma soma que o presidente colombiano prometeu distribuir às vítimas de guerra.
Também hoje, mas em Estocolmo, na Suécia, serão entregues os prémios relativos às ciências, economia e da literatura.
Este último fica marcado pela ausência do laureado, Bob Dylan, justificando com "outros compromissos".
O autor, compositor e intérprete enviou um discurso que será lido durante o banquete oferecido aos premiados.