A Presidente suspensa Dilma Rousseff vê esta quarta-feira definido o seu futuro político. O processo de destituição é praticamente um caso fechado.
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Deus, as mulheres (duas), os netos, as lágrimas (várias) e as flores. O julgamento da Presidente afastada do Brasil foi esta terça-feira arrastado à medida do tempo brasileiro e atirou para esta quarta-feira a votação que vai arredar Dilma Rousseff do Palácio do Planalto e da política ativa por oito anos. O aviso abriu a sessão, com o presidente do Supremo Tribunal Federal e do julgamento, Ricardo Lewandowski, a admitir que gostava de resolver a questão rapidamente, mas que as previsões o contrariavam. E ganhou-se tempo para emoções.
Deus e as lágrimas
Janaína Paschoal é a advogada coautora da denúncia que conduziu ao processo de destituição ("impeachment) da Presidente. "Foi Deus que fez com que várias pessoas, ao mesmo tempo, cada uma com a sua competência, percebessem o que estava a acontecer ao nosso país e conferissem a coragem para se levantarem e fazerem alguma coisa a esse respeito", disse Janaína, posicionando-se como "defensora do Brasil" num "processo do povo" e chorando.
Chorou ao pedir desculpas a Dilma por lhe causar "sofrimento". Chorou ao deixar a frase que fez chorar a defesa da Presidente: "Peço que ela um dia entenda que eu fiz isso pensando também nos netos dela".
"Nunca deixei de me emocionar diante da injustiça. Aquele que perde a emoção diante da injustiça desumanizou-se. Para quem conhece Dilma Rousseff, pedir a sua acusação para defender os seus netos é algo que me atingiu muito fortemente." José Eduardo Cardozo é advogado de defesa da Presidente e também chorou. "Eu não condeno alguém dizendo que vou resolver o futuro dos netos."
As mulheres e as flores
Janaína disse. E falou duas vezes no destino: "Entrei nesta história sem ser chamada, porque entendi que precisava de fazer alguma coisa pelo nosso país." E depois falou na qualidade do Partido dos Trabalhadores (PT) quando se trata de mentir, fazendo até opositores acreditarem que a investigação não provou crimes. "Tudo isso foi muito bom para o povo ver como é o modo PT de ser. É a enganação. É o PT que não pede desculpas, nega os fatos, nega a realidade."
Janaína falou também na "fraude" de que o "povo brasileiro" foi "vítima" e lembrou aos senadores - que Dilma chama de "julgadores" - que "um processo de impeachment é triste", mas "é um remédio constitucional". Como triste é, argumentou, ela, mulher, ter pedido o afastamento da primeira mulher Presidente. "Ninguém pode ser perseguido por ser mulher. No entanto, ninguém pode ser protegido por ser mulher." Valeu a Janaína, este discurso, um gigante ramo de flores.
A acusação de Dilma
"Quando o centro democrático deixa de ser um centro progressista e passa a ser um centro golpista e conspirador, esse é um processo que tem um líder e eu acredito que o senhor Michel Temer seja um coadjuvante e que o líder seja o senhor Eduardo Cunha ou até então era senhor Eduardo Cunha".
O atraso que Temer temia
Michel Temer tentou acelerar o julgamento. Tomando automaticamente posse como Presidente do Brasil, poderia ter viajado ainda ontem como chefe de Estado para a cimeira do G20, na China.
A pergunta aos senadores
"Cometeu a acusada, a Senhora Presidente da República, Dilma Vanna Roussef, os crimes de responsabilidade correspondentes à tomada de empréstimos junto à instituição financeira controlada pela União e à abertura de créditos sem autorização do Congresso Nacional, que lhes são imputados, e deve ser condenada à perda do seu cargo, ficando, em consequência, inabilitada para o exercício de qualquer função pública pelo prazo oito anos?" São necessários 54 votos em 81 para Dilma ser definitivamente afastada.