Na véspera de um dia decisivo para a organização da resposta da União Europeia à crise de refugiados, os apelos viraram-se para fora, convidando o mundo a estender a mão.
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A solicitação veio das próprias Nações Unidas, cujo enviado especial para a Imigração e Desenvolvimento, Peter Sutherland, defendeu a "obrigação" de todos os países do mundo, "por motivos humanitários, receberem refugiados sírios". Com uma nuance: "O dinheiro para os ajudar não exclui a responsabilidade de os acolher".
Sutherland, antigo diretor-geral da atual Organização Mundial do Comércio (OMC), nem sequer foi subtil na argumentação. Falou na necessidade de definir um mecanismo para distribuir refugiados e ilustrou com uma conferência de 1956 para realojar os 200 mil húngaros que fugiram para a Áustria na sequência da invasão soviética. A História tem tendência a repetir-se, independentemente do sentido, e Sutherland acredita que a Europa vive atualmente um "momento determinante". De passagem, classificou de absurdo o instrumento comunitário que rege os pedidos de asilo e alertou para a fragilidade do tratado de livre circulação de Schengen.
A prová-lo estará, por exemplo, a decisão húngara de endurecer regras anti-imigrantes, que, segundo outro elemento da ONU, arrisca-se a gerar o caos nas fronteiras com a Sérvia, ao longo das quais a Hungria está a construir um "muro". Vincent Cochetel, responsável para a Europa do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, alertou para a previsão de chegada àquela zona de cerca de 42 mil pessoas nos próximos dez dias.
A situação dos refugiados deverá ser o tema central da intervenção de hoje de Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, que deverá explicar o plano desenhado ao longo das últimas semanas e que implica o acolhimento de 160 mil pessoas, cerca de 4000 delas para Portugal.
Da Alemanha veio a indicação (pela voz do vice-chanceler Sigmar Gabriel) de que há capacidade para dar asilo a cerca de meio milhão de pessoas por ano e o pedido dirigido ao resto dos dirigentes europeus para que assumam as quotas calculadas por Bruxelas. Do seu lado, a chanceler Angela Merkel defendeu quotas vinculativas e uma solução consensual, entre os 25 países com política de asilo comum, rejeitando qualquer decisão por maioria. Mas admitiu que o consenso poderá demorar: a repartição "justa", com base em "determinados critérios", está "infelizmente muito longe".