Ativista foge da prisão domiciliária e manda mensagem ao primeiro-ministro pela Net
O advogado invisual Chen Guangcheng, conhecido ativista chinês dos direitos humanos, conseguiu fugir da prisão domiciliária em que estava há mais de um ano e meio e dirigiu, esta sexta-feira, uma mensagem por Internet ao primeiro-ministro da China.
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Chen confirmou a sua fuga, que causou sensação na China, escolhendo um meio inédito para se dirigir diretamente ao chefe do Governo, tendo como testemunha a vasta comunidade dos internautas.
Um militante dos direitos humanos, Bob Fu, indicou à agência noticiosa francesa AFP que Chen se encontra num local "100% seguro" em Pequim, mas não pode confirmar os rumores de que o ativista está na embaixada dos Estados Unidos da América (EUA).
"Ele conseguiu sair no dia 22 de abril e os seus amigos foram alertados e levaram-no para um lugar mais seguro, fora da sua província de Shandong (leste)", disse Bob Fu, que reside nos EUA.
A fuga de Chen Guangcheng e a sua mensagem ao primeiro-ministro representam um embaraço para o Governo chinês. O chefe do executivo, Wen Jiabao, em visita à Europa, recebe na próxima semana a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, que por diversas vezes levantou o caso de Chen.
"Caro primeiro-ministro Wen, consegui finalmente escapar, posso provar os rumores que circulam na Internet e que os abusos que sofri são reais", diz o ativista num vídeo visível no "site" de partilha YouTube.
Chen pede ao chefe do governo que a sua família seja poupada e indica os nomes de responsáveis locais que maltrataram a sua mulher, a sua filha, a sua mãe e ele próprio desde o final de 2010.
O advogado pede ainda a Wen Jiabao para punir os criminosos e a corrupção "de acordo com a lei".
Chen, que ficou cego após uma doença infantil, foi libertado da prisão em setembro de 2010 depois de passar mais de quatro anos em reclusão. Foi então colocado em prisão domiciliária na sua casa de Dongshigu, em Shandong.
Denominado "advogado de pés descalços", lutou contra as práticas abusivas de esterilização de milhares de mulheres e de abortos tardios e forçados no âmbito da política do filho único.
Todos os que tentaram aproximar-se de Chen desde 2010, amigos ou jornalistas chineses e estrangeiros, foram forçados a recuar, por vezes depois de terem sido agredidos por dezenas de homens que impediam o acesso à sua casa.