A presidência da Autoridade Palestiniana (AP) condenou na terça-feira à noite as execuções extrajudiciais feitas pelo Hamas na Faixa de Gaza de alegados colaboradores de Israel.
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A entidade presidida por Mahmoud Abbas, com sede em Ramallah, na Cisjordânia, afirmou num comunicado que as execuções são "crimes hediondos" e constituem "uma violação flagrante dos direitos humanos".
Tais atos representam "uma grave violação do Estado de direito" e refletem a determinação do Hamas "em impor a autoridade através da força e do terror", disse num comunicado citado pela agência de notícias palestiniana WAFA.
Meios de comunicação social palestinianos noticiaram na segunda-feira que pelo menos sete pessoas foram fuziladas pelo Hamas na cidade de Gaza perante uma multidão que gritava palavras de ordem de apoio à resistência armada.
Uma televisão ligada ao Hamas divulgou na terça-feira imagens da execução de oito homens numa praça com a legenda "a resistência aplica a pena de morte contra vários colaboradores e bandidos na cidade de Gaza".
Reconhecida internacionalmente, a AP não controla a Faixa de Gaza, um enclave que é governado pelo Hamas desde 2007, quando expulsou do território o partido Fatah, de Abbas, após um conflito sangrento que se seguiu às legislativas de 2006.
A presidência da AP disse no comunicado que a lei é a única referência do Estado palestiniano e que as práticas do Hamas "minam a unidade do povo palestiniano e o seu tecido social". "Estão em completa contradição com os valores nacionais e morais e prejudicam os esforços em curso para unificar as instituições do Estado da Palestina sob uma única autoridade legítima, uma única lei e uma única arma", afirmou.
Fim imediato das execuções
A presidência palestiniana apelou ao fim imediato das execuções em Gaza, à proteção dos cidadãos desarmados e à responsabilização de todos os envolvidos nas execuções, no âmbito da lei e do sistema judicial palestiniano legítimo.
Reafirmou que Gaza é parte integrante do Estado da Palestina e que "restaurar o Estado de direito e as instituições legítimas na região é o único caminho para pôr fim ao caos e reconstruir a confiança nacional".
Considerou ainda que a luta do Hamas para consolidar o poder em Gaza "serve de pretexto para a ocupação [Israel], impede a reconstrução, perpétua as divisões e obstaculiza o estabelecimento de um Estado palestiniano livre e independente".
Além das execuções, os meios de comunicação palestinianos noticiaram que o Hamas deteve um grande número de membros de milícias rivais desde a entrada em vigor do acordo de cessar-fogo com Israel, em 10 de outubro.
O porta-voz do governo de Gaza, Ismail al-Thawabta, disse na terça-feira que "mais de 70 membros de gangues" se entregaram no âmbito de uma iniciativa de "amnistia geral", segundo o diário Filastin, ligado ao Hamas.
Disse também que as forças de segurança "eliminaram mais de 50 focos de criminalidade" no enclave palestiniano, de acordo com a agência de notícias espanhola Europa Press.
Al-Thawabta afirmou que alguns grupos continuavam entrincheirados e até protegidos por forças israelitas.
Apelou a todos os envolvidos "que não têm sangue nas mãos" para que se entregassem e aproveitassem a iniciativa de amnistia geral.
Anunciou ainda o início de um plano do governo do Hamas para "alargar o controlo e fazer cumprir a lei em toda a Faixa de Gaza", com pessoal de segurança e da polícia.