Centenas de rodovias bloqueadas por manifestantes bolsonaristas. Não aceitam vitória democrática de Lula.
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Célio, 30 anos, está debaixo da Ponte Bandeiras, onde uma faixa diz "Lula não!" e "SOS Forças Armadas", na Tietê, gigantesco anel rodoviário que cerca S. Paulo e divide centro de periferia. Célio não mede as palavras: "A Polícia Militar tem que intervir na eleição. Vai ter que ter terceiroº turno. A presidência de Bolsonaro foi roubada". Célio trouxe a filha de 11 anos e ela diz: "Lula é ladrão e nós não queremos ladrão a presidente, isto não é a Venezuela, não" - e o pai concorda com orgulho.
São uns 50 manifestantes adultos, metade mulheres, alguns homens com t-shirts paramilitares, muitas bandeiras verde-amarelas. A 20 metros, a Polícia Rodoviária, oito carros, 20 agentes, assiste sem intervir. De manhã, os protestantes cortaram o trânsito, mas agora, fim de tarde em S. Paulo, só exteriorizam tristeza e frustração, berram "Brasil primeiro", "Brasil é nosso", apertam cornetas. Carros apitam em apoio. São bolsonaristas radicais em protesto pela vitória de Lula, eleito 39.º presidente por dois milhões de votos a mais que Bolsonaro, a menor margem da História do Brasil.
À hora de fecho desta edição, mais de 300 acessos rodoviários em todas as 27 unidades federativas do Brasil continuavam bloqueados pelos descrentes na democracia; outras tantas estradas foram ao longo do dia libertadas.
No passeio do anel de betão da Tietê, Jôse, 52 anos, desempregada, tem bandeira, cachecol, boné e t-shirt do Brasil. Agita-se: "Teve fraude, teve roubo, não vamos desocupar", diz a mulher. "Exijo nova eleição, houve fraude", mas não tem provas para apresentar. Ao lado dela, Neusa, 71 anos, bandeira pelas costas, junta tensão: "A nossa única arma é a rua. Estamos aqui para ficar. Somos a resistência civil".
Ali perto, na Rodoviária Tietê, a segunda maior do mundo (três milhões de pessoas/mês) já houve centenas de autocarros cancelados.
Polícias coniventes
Segundo a CNN Brasil, há elementos da Polícia Rodoviária Federal que estão a ser permissivos, e mesmo coniventes, com os bloqueios, inclusive terão até já ajudado manifestantes a efetuar a ocupação de estradas. Esses elementos da Polícia estão a cometer, assim, o crime de omissão de atuação para manter a ordem pública.