A Justiça do Catar condenou esta quinta-feira oito cidadãos indianos à pena de morte por alegadamente espionarem o programa de submarinos do país árabe para Israel. O Governo da Índia reagiu à notícia e disse estar "profundamente chocado" com o veredito.
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As oito pessoas condenadas pelo Tribunal de Primeira Instância do Catar à pena capital são ex-oficiais da Marinha indiana que estavam a trabalhar na empresa consultora Al Dahra, que auxiliava o país do Golfo na aquisição de submarinos. As sentenças poderão ser recorridas, segundo fonte familiar ao caso, ouvida pelo jornal britânico "Financial Times" – que confirmou ainda o facto de que a espionagem era para o Estado de Israel.
"Estamos profundamente chocados com o veredito da pena de morte e aguardamos o julgamento detalhado", afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros indiano em comunicado.
"Estamos em contacto com os familiares e a equipa jurídica e estamos a explorar todas as opções legais", destacou o Ministério. "Continuaremos a estender toda a assistência consular e legal. Também levaremos o veredito às autoridades do Catar", completou.
Os oito indivíduos foram detidos em agosto de 2022 e receberam apoio consular ao longo deste tempo, com o embaixador da Índia no Catar a encontrá-los no dia 1 de outubro deste ano. Segundo o diário indiano "The Hindu", o caso teve dois julgamentos, um em março e outro em junho.
As autoridades cataris não fizeram declarações públicas sobre o episódio. O país do Golfo raramente realiza execuções, de acordo com a fonte do "Financial Times", que mencionou que a última ocorreu em 2020 e, antes disso, em 2003.
País mediador e dependente de mão de obra
Doha, mesmo sem relações formais com Israel, tem desempenhado um papel de mediador para a libertação dos reféns do Hamas. O Catar é também aonde está a cúpula política do grupo islamita, incluindo o dirigente Khalid Meshaal, que sobreviveu uma tentativa de assassinato israelita na Jordânia, em 1997.
O país do Golfo, cuja maioria da população é composta por imigrantes, é dependente da mão de obra estrangeira. "Existem mais de 700 mil indianos no Catar e temos laços económicos estreitos. O Governo indiano tem acompanhado o caso de perto, sem dúvida, mas precisaria de abordá-lo ao mais alto nível para garantir que as suas vidas fossem salvas", afirmou a antiga embaixadora indiana no Catar, Deepa Gopalan, em declarações reproduzidas pelo "The Hindu".
Nova Deli e Doha tem laços reforçados ainda no setor energético, com mais de 40% do gás natural liquefeito (GNL) importado pela Índia tendo origem catari. Ambos os países estão em conversações finais para fechar um acordo de 20 anos de fornecimento de GNL pelo Catar, que é um dos maiores exportadores do Mundo.