O chefe dos serviços secretos britânicos afirmou, esta sexta-feira, no seu discurso de despedida do cargo, que não há "absolutamente nenhuma prova" de que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, queira negociar a paz na Ucrânia.
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"Está a enganar-nos", afirmou Sir Richard Moore, chefe do Serviço Secreto de Informações, mais conhecido por MI6, referindo-se ao presidente russo.
"Ele tenta impor a sua vontade imperial por todos os meios à sua disposição. Mas não consegue", disse Moore, adiantando que Putin "pensou que iria obter uma vitória fácil [quando invadiu a Ucrânia]. Mas ele - e muitos outros - subestimaram os ucranianos".
As declarações de Moore foram feitas no consulado britânico em Istambul, na Turquia, num discurso de despedida, já que o responsável deixa o seu cargo no final deste mês, depois de cinco anos à frente do MI6.
Para Moore, a invasão russa fortaleceu a identidade nacional ucraniana e acelerou a sua trajetória de aproximação ao ocidente, além de ter pressionado a Suécia e a Finlândia a juntarem-se à NATO.
"Putin tentou convencer o mundo de que a vitória russa era inevitável. Mas ele mente. Mente ao mundo. Mente ao seu povo. Talvez até a si próprio", considerou Moore, em conferência de imprensa.
Para o líder do MI6, Putin está a "hipotecar o futuro do seu país em nome do seu próprio legado pessoal e de uma versão distorcida da História" e a guerra está a "acelerar este declínio".
Moore, que anteriormente serviu como embaixador do Reino Unido em Ancara, a capital turca, acrescentou que "potências maiores do que a Rússia não conseguiram subjugar potências mais fracas do que a Ucrânia".
Plataforma para recrutar espiões
A crença de que há muitos russos insatisfeitos com a situação levou o MI6 a lançar uma operação para angariar espiões, sobretudo na Rússia.
A operação, cujo anúncio oficial será feito por Sir Richard Moore, consiste no lançamento de uma plataforma na "dark web" (uma parte oculta da Internet acessível apenas com "software" especial), chamada "Silent Courier", que visa recrutar agentes para o serviço de informações.
"Hoje, pedimos àqueles com informações confidenciais sobre instabilidade global, terrorismo internacional ou atividades de inteligência hostis de outros Estados que contactem o MI6 em segurança através da Internet", defende Moore, de acordo com parte do seu discurso, noticiado pela agência Bloomberg.
As instruções sobre como utilizar o portal estarão disponíveis publicamente no canal de YouTube do MI6.
O MI6 indica que procura utilizar o anonimato na "dark web" para permitir que potenciais agentes mitiguem os riscos que enfrentariam ao colaborar com o Reino Unido, numa medida semelhante à adotada pela CIA norte-americana em 2023, que publicou vídeos nas redes sociais procurando recrutar espiões russos.
A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991 - após o desmoronamento da União Soviética - e que tem vindo a afastar-se da esfera de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do ocidente.
A guerra na Ucrânia já causou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia a cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado, em ofensivas com drones, alvos militares em território russo e na península da Crimeia, ilegalmente anexada por Moscovo em 2014.
Moscovo tem acusado os países europeus de contribuírem para que o conflito se arraste com os apoios que dão à Ucrânia.