Um cidadão iraquiano morreu em 2003, meses depois da invasão anglo-americana do Iraque, vítima de "violência gratuita grave" por parte de soldados britânicos, concluiu um inquérito público apresentado, esta quinta-feira, em Londres.
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O inquérito, conduzido pelo antigo juiz William Gage, foi iniciado em 2008 e pretendia esclarecer as circunstâncias da morte de Baha Mousa, um funcionário de 26 anos e pai de dois filhos.
Mousa foi um de sete homens detidos durante um raide militar ao hotel onde trabalhava em Bassorá, no sul do Iraque, em busca de insurgentes e levado para a base militar após terem sido encontradas armas.
Durante a prisão preventiva de 36 horas terá sido objecto de maus tratos, que resultaram em 93 lesões, incluindo costelas e o nariz partido, acabando por morrer de asfixia, causada pela posição de tensão a que foi submetido.
Mousa não só terá sido privado de comida e de água como também foi alvo de "murros" e "possivelmente de pontapés", resultado numa "mancha para a reputação das forças armadas" britânicas.
"A minha opinião é que foi um episódio chocante de violência grave e gratuita sobre civis, que resultou na morte de um homem e ferimentos a outros", lamentou Gage.
Os advogados da família de Baha Mousa defenderam, após a divulgação do relatório, um processo civil contra os soldados envolvidos, sete dos quais enfrentaram um tribunal de guerra em 2007.
Na altura, seis foram ilibados e apenas um confessou o tratamento desumano de civis, tornando-se no primeiro militar britânico condenado por crimes de guerra.
O ministério da Defesa britânico aceitou também na altura pagar uma indemnização de 2,83 milhões de libras (3,24 milhões de euros) a 10 vítimas ou familiares, incluindo os de Mousa.
O inquérito concluído esta quinta-feira produziu ainda 73 recomendações, incluindo o julgamento de soldados que ignorem ordens para proibir certas técnicas de interrogatório como tapar a cabeça, privação de sono ou de alimentação.
Isto, porém, levantou reservas ao ministro da Defesa, Liam Fox, apesar de ter aceite "em princípio" todas as restantes conclusões.
"É vital que retenhamos as técnicas necessárias para assegurar rapidamente em circunstâncias apropriadas informações que possam salvar vidas", afirmou no Parlamento.
Já o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, Peter Wall, admitiu que os soldados britânicos "estavam mal preparados para a tarefa de lidar com detidos civis".
"O exército fez esforços vigorosos desde então para mudar a forma como treinamos e conduzimos operações de detenção", vincou.