O nome do atual cônsul honorário de Portugal na Guatemala, Juan Manuel Díaz-Durán Méndez, é um dos citados no escândalo financeiro mundial "Documentos do Panamá" como tendo recorrido aos serviços da Mossack Fonseca, para abertura de empresas offshore.
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Juan Méndez, dono de um escritório de advogados, é mesmo considerado na Guatemala como o representante da Mossack. O cônsul honorário, nomeado no tempo em que Paulo Portas ainda era ministro dos Negócios Estrangeiros, já veio a público admitir apenas uma parceria com a firma de advogados do Panamá, mas nega qualquer ato ilegal.
Juan Méndez foi associado ao escândalo dos "Documentos do Panamá" por causa da alegada criação de um offshore para uma traficante de droga
A nomeação do representante de Portugal na Guatemala foi despachada pelo então ministro dos Negócios Estrangeiros a 6 de agosto de 2012 e publicado em "Diário da República" um mês depois. No despacho lê-se que Juan Méndez depende da secção consular da Embaixada de Portugal na Cidade do México. O espaço onde os portugueses podem pedir apoio do Estado na cidade de Guatemala é precisamente o mesmo onde se pode procurar aconselhamento jurídico para abrir um offshore, na sede do escritório de advogado Díaz-Durán & Asociados Central Law, parceira da Mossack Fonseca.
Juan Méndez foi associado ao escândalo dos "Documentos do Panamá" por causa da alegada criação de um offshore para uma traficante de droga guatemalteca, ligada ao Sinaloa, o poderoso cartel mexicano, e também ao famoso criminoso "El Chapo Guzman". Marllory Chacon, apelidada de "Reina del Sur", aparece nos documentos libertados pelo Consórcio de Jornalistas de Investigação como sendo dona da "Broadway Commerce", offshore criado pela Mossack Fonseca, com intermediação do escritório de advogados do cônsul honorário de Portugal na Guatemala.
Juan Méndez negou qualquer ato ilícito ou ligação a personagens relacionadas com o tráfico
Em declarações à Imprensa local, Juan Méndez negou qualquer ato ilícito ou ligação a personagens relacionadas com o tráfico. "Temos uma relação comercial e profissional com vários escritórios de advogados. No Panamá trabalhamos também com vários. Temos vindo a colaborar com a Mossack Fonseca já há algum tempo a esta parte. Vou ser muito categórico em dizer que nunca tivemos nenhuma relação com Marllory Chacon", explicou Juan Méndez, que admitiu ter criado em 2009, a Broadway Commerce Inc, mas para um advogado penalista do Guatemala, entretanto assassinado em 2015.
Para já, o Consórcio de Jornalistas que divulgou os "Documentos do Panamá", envolvendo cerca de 200 países e 214 mil entidades offshore em 21 paraísos fiscais, apenas publicou o nome de um empresário com nacionalidade portuguesa: Idalécio de Castro Rodrigues de Oliveira, um homem ligado aos negócios do petróleo no Brasil e investigado no âmbito da operação Lava Jato.
Mas sabe-se que o escritório de advogados panamense terá criado 244 empresas offshore para pelo menos 34 clientes com uma morada fiscal portuguesa. Tudo isso com a cumplicidade de 23 intermediários. O Ministério Público português já informou estar a recolher elementos e abrirá um inquérito caso sejam detetados eventuais indícios de crime de fraude ou evasão fiscal.