
Líder da oposição venezuelana foi recebida por multidão em Oslo
Foto: AFP
Opositora de Maduro chegou tarde à Noruega para receber o Nobel, mas garante que o vai levar de volta a casa.
A vencedora do Prémio Nobel da Paz, Maria Corina Machado, garantiu que fará o seu melhor para regressar à Venezuela e acabar com a "tirania" no país, após ter sido recebida por apoiantes em Oslo, quase um ano depois de ter sido vista em público pela última vez, dizendo que tem vivido na clandestinidade.
Machado, que desapareceu da via pública em janeiro após desafiar o governo de Nicolás Maduro, surgiu pela primeira vez na varanda de um hotel na capital norueguesa para aplaudir os apoiantes na quinta-feira de madrugada, após uma saída da Venezuela envolta em mistério. Relatos nos média indicam que terá saído de barco em direção à ilha neerlandesa Curaçau, nas Caraíbas.
Acenou da varanda do "Grand Hotel" e mandou beijos aos apoiantes, que cantavam "libertad", e depois desceu à rua, passou por cima de barreiras metálicas para se aproximar e recebeu abraços e rosários. O Instituto Nobel disse que Machado fez "tudo o que estava ao seu alcance para vir à cerimónia", empreendendo uma viagem de "extremo perigo".
Já de manhã, agradeceu a todos os que "arriscaram as suas vidas" para a levar até Oslo, não ficando claro pretende regressar a casa, depois de a Venezuela ter dito que a consideraria uma fugitiva se deixasse o país.
Antes, afirmara aos jornalistas no exterior do Parlamento norueguês que faria o seu "melhor" para regressar. "Vim para receber o prémio em nome do povo venezuelano e vou levá-lo de volta para a Venezuela no momento certo", disse. "Não vou dizer quando será ou como será", acrescentou, mas disse que queria "acabar com esta tirania muito em breve e ter uma Venezuela livre".
Risco político
Machado acusou Maduro de ter roubado as eleições venezuelanas de julho de 2024, nas quais foi proibida de participar, uma afirmação apoiada por grande parte da comunidade internacional. Desde então, vive escondida, tendo aparecido publicamente pela última vez a 9 de janeiro em Caracas, onde protestou contra a tomada de posse de Maduro para o seu terceiro mandato. A decisão de deixar a Venezuela e juntar-se às festividades de Oslo implica um risco pessoal e político.
"Corre o risco de ser presa se regressar, mesmo que as autoridades tenham mostrado mais contenção com ela do que com muitos outros, porque prendê-la teria um valor simbólico muito forte", disse à AFP Benedicte Bull, professora especializada em América Latina na Universidade de Oslo. Embora seja o líder "indiscutível" da oposição, "se ficasse no exílio por muito tempo, perderia gradualmente a influência política".
No discurso de aceitação, lido por uma das suas filhas na quarta-feira, Machado denunciou os raptos e a tortura durante o mandato de Maduro, chamando-lhes "crimes contra a humanidade" e "terrorismo de Estado, utilizado para enterrar a vontade do povo". Machado tem sido aclamada pela sua luta pela democracia, mas também criticada por se alinhar com Donald Trump, a quem dedicou o seu Nobel, e por convidar à intervenção estrangeira no seu país. Nas últimas semanas, os EUA reforçaram a presença militar nas Caraíbas e realizaram ataques mortais contra o que Washington diz serem barcos de contrabando de droga. Maduro insiste que as operações dos EUA - que Machado apoiou - têm como objetivo derrubar o governo e apoderar-se das reservas de petróleo.
