Muitos dos corpos das vítimas do voo MH17, abatido na quinta-feira quando voava sobre a Ucrânia, foram colocados, este domingo, em carruagens, supostamente com capacidade para refrigeração, na cidade de Torez. Rebeldes retiram-se da zona dos destroços.
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O repórter do "The Guardian" no local testemunhou a chegada da missão da OSCE junto das carruagens, escoltada por "um conjunto de rebeldes altamente armado e muito nervoso".
O cheiro, quando foram abertas as portas, era muito forte. Michael Bociurkiw, o porta-voz da OSCE, declarou ser "impossível entrar nos vagões sem ter equipamento especial", devido ao avançado estado de decomposição dos cadáveres, que estiveram durante três dias ao sol, a uma temperatura de cerca de 30º. Por isso, não foi efectuada nenhuma contagem.
Uma contagem não oficial está a ser, no entanto, adiantada na imprensa internacional. A BBC garante que os socorristas ucranianos a trabalhar no local dizem que foram encontrados 196 cadáveres.
A agência AFP avançou que todos os corpos já terão sido removidos da zona de impacto, mas ainda há jornalistas a garantir ainda haver corpos junto às estradas.O repórter do Wall Street Journal colocou no Twitter uma fotografia que mostra quatro sacos com os restos mortais das vítimas. Outro repórter no local fala em mais 18 corpos ainda por recolher.
Há também relatos de que as milícias já se retiraram da zona dos destroços e que, aparentemente, irão deixar os inspectores trabalhar sem restrições.
Aleksander Borodai, o primeiro-ministro da autoproclamada República Popular de Donetsk, disse esta tarde que os corpos que foram removidos do local vão ser mantidos nas carruagens "até que cheguem os peritos".
Borodai explicou que as suas forças retiraram os corpos do local "por respeito pelas famílias" das vítimas e porque "está a tornar-se desumano ficarem nestas condições".
Hoje de manhã, o governo Ucraniano voltou a criticar fortemente os separatistas, reforçando as acusações de que "estão a fazer tudo o que podem para esconder as provas do envolvimento russo" no incidente. Andriy Lysenko apelidou os rebeldes de "terroristas" e sublinhou que retiraram corpos e destroços da zona de impacto, "adulterando uma zona que tem que estar segura para que os investigadores determinem o quê e quem causou a queda do avião", disse.
O secretário de Estado norte-americano John Kerry disse também hoje que é "claro" que o sistema de mísseis utilizado para abater o avião da Malaysia Airlines no leste da Ucrânia veio da Rússia.
"É claro que se trata de um sistema (de mísseis) que foi transferido da Rússia para as mãos dos separatistas pró-russos" na Ucrânia, declarou Kerry ao canal de televisão norte-americano CNN.
Caixas negras estão em Donetsk
Borodai esclareceu ainda que materiais do recolhido do avião e que os rebeldes presume serem as caixas negras dos avião foi enviado para Donetsk. "Estão sob o nosso controlo", disse, em conferência de imprensa, Aleksander Borodai.
Borodai afirmou estar pronto para entregar os materiais encontrados aos especialistas internacionais que vão verificar as causas do acidente, explicando que os rebeldes "não têm especialistas para analisar" e "não têm confiança" nos especialistas ucranianos.
Alemanha, França e Reino Unido pressionam Putin
Merkel, Hollande e Cameron pediram, este domingo, a Putin que obtenha dos separatistas pró-russos um acesso "livre e total" à zona da queda do avião da Malaysia Airlines, exigiram este domingo o presidente francês, a chanceler alemã e o primeiro-ministro britânico.
Cartões de crédito das vítimas roubados
Pouco fazem, mas também pouco ou nada deixam fazer. Esta era a atitude dos rebeldes pró-russos perante a angústia de famílias das vítimas e os pedidos da comunidade internacional para aceder a corpos e a destroços do MH17.
Na sequência de relatos e acusações de que os rebeldes estão a roubar as vítimas, nomeadamente os cartões de crédito, os bancos holandeses decidiram, sábado, tomar "medidas preventivas". Num comunicado, a Associação de Bancos da Holanda garantiu ainda que reembolsará os familiares das vítimas por eventuais usos dos cartões por rebeldes ucranianos.
Esta é apenas uma das reações provocadas pela onda de choque que atinge não só especificamente a Holanda, que perdeu na tragédia 192 cidadãos, como a comunidade internacional, que assistem à discricionariedade com que os separatistas em Donetsk têm contaminado as provas no terreno.
Os 17 observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), cujo objetivo é verificarem o resgate dos corpos e se há condições para os investigadores avançarem, foram recebidos no sábado por rebeldes agressivos e aparentemente sob efeito de álcool, disse fonte daquela entidade ao jornal holandês "De Telegraaf".
"Como em qualquer trabalho, a colaboração melhora com o tempo... Tivemos um melhor acesso", explicou, à agência noticiosa Reuteurs, Alexander Hug, o chefe da missão da OSCE, salientando um cenário de tensão.
O ministro malaio dos Transportes, Liow Tiong Lai, acusou os separatistas de levarem a cabo mudanças dos destroços, lamentando que "a integridade do local tenha sido comprometida". Já o Governo ucraniano emitiu um comunicado denunciando que "os terroristas (rebeldes) transportaram 38 corpos das vítimas para a morgue, em Donetsk", onde iriam realizar autópsias.