As Damas de Branco, familiares de dissidentes cubanos presos em 2003, foram impedidas de marchar em Havana, tendo sido insultadas por apoiantes do governo cubano.
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O incidente, que terminou com a expulsão forçada das mulheres, aconteceu à saída da igreja de Santa Rita, em Havana, onde se encontravam nove membros desse grupo, que tinham acabado de assistir à missa dominical, como fazem todas as semanas antes de iniciar a marcha pacífica com que pedem a libertação dos seus familiares.
No entanto, um polícia à paisana ordenou-lhes que se retirassem por não terem permissão para realizar a marcha, o que as mulheres terão recusado, exigindo-lhe um pedido por escrito.
"Quando houver uma lei em Cuba que diga que é preciso permissão para caminhar nas ruas de Cuba, então nós faremos isso [pedir permissão por escrito], mas só quando nos reconhecerem como um movimento, como uma organização, como um grupo", disse Berta Soler, uma porta-voz do grupo.
As mulheres começaram a gritar "liberdade, liberdade" e nesse momento dezenas de apoiantes do governo cercaram-nas e começaram a gritar slogans a favor da revolução cubana e dos seus dirigentes, assim como insultos contra as mulheres.
"Mercenárias", "terroristas", "loucas", "marionetas", "traidoras" ou "baratas" foram alguns dos adjectivos que os apoiantes do Governo dirigiram às mulheres, que ficaram cercadas no centro do grupo durante duas horas e meia, de pé, sob um sol escaldante.
Ao fim de uma hora, uma das Damas de Branco foi transportada para uma ambulância, estacionada a poucos metros, com tonturas. As mulheres acabaram por ser forçadas a subir para um autocarro.
Loyda Valdés, uma das fundadoras do grupo dissidente feminino, disse à Agência Efe que as mulheres foram conduzidas até as proximidades da casa de Laura Pollan, líder do grupo, e uma vez lá, outras manifestantes continuaram a gritar palavras de ordem revolucionárias.
Loyda Valdés, mulher do opositor preso Alfredo Felipe condenado a 26 anos de prisão, lamentou "a ausência das autoridades judiciais neste conflito".
Depois do que aconteceu no domingo, Loyda Valdês disse ter-se sentido "no meio de um tsunami", no qual observou "muita ira" nos manifestantes pró-castristas.
Já na semana passada as "Damas de Branco" - agraciadas há cinco anos com o prémio Sakharov do Parlamento Europeu - denunciaram que a polícia não autorizou a marcha que habitualmente realizam aos domingos e as obrigou a voltar para casa.
As Damas de Branco, que se identificam por vestir esta cor como símbolo da paz, têm por tradição realizar reuniões, protestos e marchas nas ruas de Havana com gladíolos nas mãos para exigir a libertação dos seus familiares, condenados a penas de prisão até 28 anos.