"Democracia brutal". Presidente da Bielorrússia avisa manifestantes da oposição que estão a ser vigiados
O presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, pediu, este domingo, dia das eleições presidenciais que certamente vencerá, que aqueles que participaram nos protestos contra os resultados eleitorais de 2020 se arrependam, lembrando-lhes que as autoridades os estão a vigiar.
Corpo do artigo
O líder, que se candidata hoje a um sétimo mandato numas eleições consideradas pelo Ocidente e pela oposição como uma farsa, reconheceu que os manifestantes de 2020 foram impedidos de manter empregos, e avisou que têm uma nova possibilidade se reconhecerem “que estavam errados”. “Não vamos perseguir o mundo inteiro, mas estamos a vigiá-los”, reiterou.
Em 2020, nem a oposição nem o Ocidente reconheceram a vitória de Lukashenko, o que desencadeou os maiores protestos da história recente do país e uma repressão policial sem precedentes.
Na altura, centenas de pessoas foram detidas em manifestações contra as eleições, nas quais exigiam a saída do Presidente, tendo a polícia chegado a bloquear a capital e usado canhões de água para dispersar os manifestantes, enquanto as autoridades governamentais bloqueavam as ligações de internet e telefone para evitar novas combinações de protestos.
Bielorrússia é uma "democracia brutal"
O presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, aliado de Moscovo, defendeu que a Bielorrússia é uma “democracia brutal”. “Temos uma democracia brutal na Bielorrússia. Não pressionamos ninguém e não silenciamos ninguém", disse aos jornalistas o líder de 70 anos, um autocrata no poder desde 1994, depois de ter votado em Minsk.
Lukashenko acrescentou que os presos políticos detidos no país podem pedir perdão, mas descartou qualquer diálogo com a oposição no exílio.
O chefe de Estado referiu ainda ser-lhe indiferente que o Ocidente não reconheça as eleições bielorrussas "Reconhecem-nos ou não os reconhecem, é uma questão de gosto. Para mim não faz qualquer diferença. O importante é que as eleições sejam reconhecidas pelos bielorrussos", disse Lukashenko aos jornalistas depois de votar numa assembleia de voto de Minsk.
Insistiu que, quer se goste ou não, o povo bielorrusso tem a última palavra. "Temos de encarar as coisas com calma", afirmou.
Quanto às relações com o Ocidente, Lukashenko afirmou que Minsk nunca se recusou a mantê-las. "Estamos sempre prontos, mas vocês [ocidentais] não querem. Então o que devemos fazer, baixar a cabeça ou rastejar?", questionou.
Lukashenko acrescentou que a Bielorrússia está disposta a dialogar com a União Europeia (UE), "mesmo com aqueles que adotaram uma política agressiva" contra Minsk.
A Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Kaja Kallas, afirmou no sábado que a autoproclamação de Lukashenko como Presidente da Bielorrússia, após as eleições de hoje, é uma "afronta flagrante à democracia" e que não tem "qualquer legitimidade".
"Lukashenko agarrou-se ao poder durante 30 anos. Amanhã [hoje] vai proclamar-se novamente numa nova farsa eleitoral. Isto é uma afronta flagrante à democracia. Lukashenko não tem qualquer legitimidade", escreveu o chefe da diplomacia europeia numa mensagem nas redes sociais.
A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, enviou no sábado uma mensagem ao povo da Bielorrússia, apelando à sua força antes das presidenciais, sublinhando o apoio da UE e afirmando que "a ditadura vai acabar".
Numa resolução aprovada na quarta-feira, os eurodeputados apelaram à UE, aos seus Estados-Membros e à comunidade internacional para que não reconheçam a legitimidade daquele que é visto como o último ditador da Europa.
Dois dias depois, a Comissão Europeia (CE) afirmou que as eleições presidenciais são “antidemocráticas” e uma “farsa”.
Apoiado por Moscovo, Alexander Lukashenko recusou deixar o poder mesmo quando a União Europeia (UE) aprovou sanções a personalidades ligadas ao regime em resposta à “brutalidade das autoridades bielorrussas e em apoio aos direitos democráticos do povo bielorrusso”, e os Estados Unidos congelaram os bens do vice-ministro do Interior, considerado o braço de execução da repressão violenta, e de várias organizações.
Também a legitimidade das eleições presidenciais de hoje foi rejeitada pelos EUA e pelo Ocidente, tendo a líder da oposição bielorrussa no exílio, Svetlana Tikhanovskaya, referido que foi a primeira vez que “os países democráticos e as organizações internacionais não reconheceram as ‘não eleições’ antes mesmo de estas serem realizadas”.
Segundo Tikhanovskaya, tanto “os Estados Unidos como 37 países da OSCE [Organização para a Segurança e Cooperação na Europa]” já fizeram declarações a rejeitar reconhecer as eleições bielorrussas.
No entanto, a Comissão Eleitoral Central da Bielorrússia afirmou que a participação na votação ultrapassava, ao meio-dia, 50% dos eleitores, que é o mínimo exigido por lei para declarar a eleição válida.
Depois de votar numa assembleia de voto em Minsk, Lukashenko dirigiu-se aos jornalistas para sublinhar que não se importa se os países ocidentais reconhecem as eleições presidenciais deste domingo.
Como aliado do Presidente russo, Lukashenko garantiu ainda que “não se arrepende” de ter permitido que o território bielorrusso fosse utilizado como base de retaguarda para as forças russas invadirem a Ucrânia, em fevereiro de 2022.
“Não me arrependo de nada”, afirmou, quando confrontado com a dimensão do número de vítimas da ofensiva lançada há quase três anos.
Cerca de sete milhões de bielorrussos foram chamados às urnas para as presidenciais, dos quais 41,81% (quase três milhões) exerceram o seu direito de voto antecipadamente, desde terça-feira.
A votação começou às 08:00 locais (05:00 em Lisboa) e terminará às 20:00 (17:00 em Lisboa), após o que serão divulgados os primeiros resultados preliminares, segundo a Comissão Eleitoral Central.
Lukashenko é o dirigente europeu há mais tempo em funções, estando no poder desde 1994, e, segundo as sondagens, 82,5% dos bielorrussos tencionam apoiá-lo nas urnas.