Autoridades palestinianas esperam que decisão de países como França e Portugal pressione Israel a aumentar o acesso à ajuda humanitária e, eventualmente, a pôr um fim à guerra.
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A última semana ficou marcada por vários países, incluindo Portugal, a anunciarem que vão reconhecer o Estado da Palestina, seguindo o exemplo de França, que disse que concretizará a medida durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro. As decisões de diversas nações perante o crescimento da devastação na Faixa de Gaza trazem esperança e, ao mesmo tempo, ceticismo em relação a qualquer alteração na operação israelita.
Além de França e Portugal, Canadá, Malta e Reino Unido anunciaram a intenção de reconhecer a Palestina no próximo mês. Outros países que ainda não reconhecem o Estado palestiniano, como Andorra, Austrália, Finlândia, Islândia, Luxemburgo, Nova Zelândia e San Marino, assinaram a declaração que apela a tal ação após a conferência sobre a solução de dois estados, que ocorreu no início da semana, em Nova Iorque.
Na visão da embaixadora da Palestina em Lisboa, a decisão "faz parte de um consenso global sobre o reconhecimento dos direitos do povo palestiniano de, antes de mais, exercer o direito à autodeterminação e ter o próprio Estado com as fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como capital". "O que uniu todos estes países foi a situação devastadora em Gaza, mas também na Cisjordânia, e a necessidade de reagir, de pressionar Israel para que trave esta agressão e este genocídio, permitindo um acesso humanitário incondicional, um cessar-fogo e o fim desta agressão", pontuou à agência Lusa Rawan Suleiman.
No caso português, o Governo quer antes consultar o presidente da República e os partidos no Parlamento, mas demonstrou satisfação com os compromissos assumidos pela Autoridade Palestiniana. Assim como a França exige, Portugal quer um território palestiniano desmilitarizado - algo que o próprio presidente palestiniano, o impopular Mahmoud Abbas, deseja.
Críticos pedem mais
Ao comentar o anúncio de Paris, Muhammad Zulfikar Rakhmat, do Centro de Estudos Económicos e Jurídicos de Jacarta, na Indonésia, salientou que não há "nenhuma menção ao desmantelamento de colonatos, nenhuma restituição de terras ocupadas, nenhuma responsabilização por crimes de guerra em Gaza". "Apenas submissão, em troca de um rótulo diplomático", escreveu o investigador no portal Middle East Monitor.
Análise similar faz a diretora do Instituto Palestiniano para a Diplomacia, que frisou à agência France-Presse (AFP) que "o que a França deveria ter reconhecido é o genocídio e tomado medidas para acabar com ele e com a ocupação". Ines Abdel Razek defendeu um corte das relações diplomáticas com Israel e um embargo.
Nas ruas do centro administrativo palestiniano de Ramallah, na Cisjordânia ocupada, opiniões ouvidas pela AFP demonstram um otimismo, apesar de o reconhecimento ser "simbólico". "Todas estas decisões não só reafirmam os direitos do povo palestiniano, como também contribuem para mudar a realidade violenta na região e levar a uma maior estabilidade", destacou o militante político Ahmed Ghoneim.