Dilma Rousseff conquistou, este domingo, uma vantagem magra na segunda volta das presidenciais, mas suficiente para ser reeleita e dar ao PT brasileiro o quarto mandato consecutivo no Palácio do Planalto.
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A campanha, como convém a umas presidenciais brasileiras, foi intensa, embora não tenha havido uma disputa eleitoral tão agressiva desde que, em 1989, Lula e Collor de Mello lutaram pela a presidência brasileira.
Collor de Mello venceu dessa vez. Treze anos depois, em 2002, Lula conseguiu levar o Partido dos Trabalhadores (PT) ao Palácio do Planalto, iniciando uma era de poder da esquerda brasileira que se pode prolongar por 16 anos, caso Dilma Rousseff leve o seu segundo mandato, conquistado ontem, e quarto consecutivo do PT, até ao fim.
E se a campanha foi especialmente maniqueísta(os dois lados tiraram as luvas para tentar virar norte contra sul e ricos contra pobres) o resultado, porque renhido, não surpreendeu. Dilma conquistou 51,6% dos votos, contra os 48,3% obtidos pelo candidato do Partido da Social-Democracia brasileira (PSDB), Aécio Neves. Foi uma diferença de cerca de 3 milhões de votos num universo de perto de 100 milhões de votos válidos.
O candidato do centro-direita venceu na maior parte dos estados do sul do Brasil, e região mais próspera. Como esperado, nos estados do nordeste e do norte, zonas mais pobres, Dilma Rousseff conquistou a maioria dos votos.
Aécio ainda venceu em São Paulo, o Estado com o maior colégio eleitoral, mas perdeu em Minas Gerais, onde foi governador por dois mandatos consecutivos.
A imprensa brasileira lembrava ontem que, desde que caiu a ditadura militar, em 1984, nunca um dos ex-presidentes - Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Lula e a própria Dilma - tinha chegado à presidência brasileira por tão pequena margem.
Em 2010, Dilma ganhou com 56%, contra os 44% conquistados por José Serra. Foi na segunda ronda daquelas presidenciais, em que Dilma chegou ao poder com uma margem de cerca de 12 milhões de votos relativamente ao candidato do PSDB.
Lula da Silva, por exemplo, foi reeleito, em 2002, também na segunda volta, mas com 61,3% da votação (perto de 53 milhões de votos), o que equivale a uma diferença de quase 20 milhões de votos para José Serra, o seu adversário nessa eleição e que teve 38,72%. Em 1998, Fernando Henrique Cardoso conquista um segundo mandato à primeira volta com mais 14 milhões de votos dos que foram obtidos por Lula nessas presidenciais.
Unir o país e fazer mais reformas
Tentar curar as cicratizes deixadas por uma campanha agressiva foi a primeira prioridade de Dilma, no discurso de vitória: "Tenho forte esperança que criamos condições para nos unirmos", apelou a presidenta, acrescentando que "toda eleição tem que ser vista como uma forma pacífica e segura de mudança de um país" .
Rousseff anunciou que quer realizar mudanças estruturais no país e demonstrou-se consciente da necessidade de mudança expressa, não só durante a campanha, como na divisão tão próxima dos votos. Diz-se pronta para fazer "as grandes mudanças que a sociedade brasileira exige".
Em Brasília, ao lado de Lula da Silva, que apareceu na última semana na campanha para dar o empurrão final à vitória da sua protegida, Dilma garantiu ainda que vai dar prioridade mudanças na legislação atual para acabar com a impunidade à corrupção, a afirmar que atualmente "a impunidade é a maior protetora da corrupção".
"Quero ser uma presidenta muito melhor do que fui até agora", prometeu.
Por seu turno, Aécio fez questão de agradecer a quem votou em si nas presidenciais: "Eu serei eternamente grato aos brasileiros que me receberam tão bem.", declarou, depois de telefonar a Dilma para lhe dar os parabéns.
O novo mandato de Dilma Rousseff no Planalto arranca a 15 de janeiro de 2015.