A líder da Amnistia Internacional na Ucrânia, Oksana Pokalchuk, demitiu-se na sequência do polémico relatório da organização de direitos humanos que acusava os militares ucranianos de colocarem os civis em risco durante as operações militares contra a Rússia.
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A representante da Amnistia Internacional no país anunciou a demissão, no sábado, alegando que um relatório da organização a acusar as forças armadas ucranianas de colocarem civis em perigo serviu involuntariamente de "propaganda russa". "Demito-me da Amnistia Internacional na Ucrânia", escreveu Oksana Pokaltchouk, num comunicado publicado no Facebook.
O relatório, divulgado na quinta-feira, alertava que as forças ucranianas colocam em perigo a população civil por estabelecerem bases militares em zonas residenciais e lançarem ataques a partir de áreas habitadas por civis.
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As forças ucranianas põem civis em perigo quando montam bases e operam sistemas de armas "em zonas habitadas por civis, incluindo em escolas e hospitais, para repelir a invasão russa que começou em fevereiro", refere a organização no documento, acrescentando que essas táticas violam o direito internacional e tornam zonas civis em objetivos militares contra os quais os russos retaliam.
A organização de direitos humanos ressalvou, no entanto, que esta atuação não justifica os ataques indiscriminados da Rússia, que mataram mais de cinco mil civis, de acordo com as Nações Unidas.
Kiev não gostou, mas Amnistia defende relatório
Esta crítica irritou Kiev, tendo o chefe da diplomacia ucraniana, Dmytro Kuleba, afirmado "estar indignado" com as acusações "injustas" avançadas pela Amnistia Internacional, enquanto o presidente, Volodymyr Zelensky, considerou que a organização estava a "tentar amnistiar o Estado terrorista russo". No entanto, a Amnistia reiterou a conclusão, defendendo o relatório e as suas críticas. "Se não se vive num país invadido por ocupantes que o dividem, provavelmente não se entende o que é condenar um exército de defensores", argumentou a representante da Amnistia na Ucrânia.
Oksana Pokaltchouk adiantou ter tentado convencer a administração da Amnistia Internacional de que o relatório era parcial e de que não levava em conta as opiniões do Ministério da Defesa ucraniano. Segundo referiu, a Amnistia acabou por "enviar perguntas ao Ministério da Defesa" da Ucrânia, mas "deu muito pouco tempo para uma resposta". Por isso, "a organização divulgou um relatório que parecia involuntariamente apoiar a versão russa. Num esforço para proteger os civis, este relatório tornou-se numa ferramenta de propaganda russa", lamentou.
Também a Associação dos ucranianos em Portugal acusou no sábado a Amnistia Internacional de "não ser eficaz" e de "estar a apoiar a continuação do sofrimento do povo ucraniano".