O assessor especial da ONU para a prevenção do genocídio, Adama Dieng, alertou esta segunda-feira para a possibilidade de um extermínio em massa na República Centro Africana se a comunidade internacional não agir urgentemente.
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"A situação atual na República Centro Africana, a espiral de violência que tomou conta do país e, sobretudo, o facto de as pessoas estarem a ser mortas apenas devido à sua religião, fazem-me recear que possa ocorrer outro genocídio em África", afirmou Dieng numa conferência de Imprensa.
O responsável, que já em novembro tinha alertado para o risco de um genocídio na RCA, observou que desde então "foram dados alguns passos", mas defendeu que sejam tomadas "medidas mais concretas".
"Desde então foram destacados soldados franceses e da União Africana (para a RCA), mas, apesar destes 6 mil soldados, continuamos muito preocupados e, por isso, junto a minha voz à dos que estão a apelar à comunidade internacional para agir imediatamente", adiantou.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas está a analisar a formação de uma força de paz com 12 mil homens que, a ser aprovada, poderia ser destacada no final do verão.
Dieng sublinhou ainda a importância dos responsáveis pelas atrocidades serem julgados, classificando de "boa notícia" a criação pela ONU de uma comissão de inquérito para investigar as violações dos direitos humanos desde o início de 2013.
Liderada por Bernard Acho Muna, advogado dos Camarões que foi procurador-chefe adjunto do Tribunal Penal Internacional para o Ruanda, a comissão partiu hoje para a capital da RCA, Bangui, onde iniciará a sua missão de duas semanas na terça-feira. Em junho, deverá entregar um primeiro relatório ao Conselho de Segurança da ONU.
Adama Dieng congratulou-se também pelo facto do Tribunal Penal Internacional "estar já a fazer um exame preliminar" à situação de violência naquele país.
A RCA mergulhou no caos desde que em março de 2013 a coligação Séléka, de maioria muçulmana, derrubou o governo do país maioritariamente cristão e presidido por François Bozizé, desencadeando uma espiral de violência sectária, com um balanço de milhares de mortos.
Desde dezembro, a violência forçou quase um milhão de pessoas a deixarem as suas casas, das quais 700 mil são deslocados internos e cerca de 300 mil estão refugiados nos países vizinhos, sobretudo no Chade e nos Camarões.