Madrid vai a votos na terça-feira, numas eleições autonómicas antecipadas. Sondagens indicam uma vitória do Partido Popular, que, ainda assim, para governar, poderá ter de ceder ao Vox.
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Madrid vai às urnas na terça-feira para escolher um líder que governe a região durante os dois próximos anos. Se não houver surpresa, a atual presidente e candidata à reeleição, Isabel Díaz Ayuso, do Partido Popular (PP), sairá reforçada de umas eleições autonómicas que medem o ressurgimento da Direita perante uma Esquerda dividida, num cenário político espanhol cada vez mais instável. Neste contexto, a extrema-direita poderá ser determinante.
Os dois parceiros no Governo central - Partido Socialista (PSOE) e Unidas Podemos (UP, de Esquerda) - vão sair prejudicados do escrutínio, antecipado, na capital. Segundo as sondagens, os socialistas conseguirão 33 assentos, amplamente superados pelo PP, que deverão conseguir 59.
Nesta equação, também aparece debilitada a figura de Pablo Iglesias, candidato do UP - que deixou a vice-presidência do Governo para se candidatar -, que melhora os resultados do partido em 2019, mas que só obterá onze lugares.
Para tentar evitar o fracasso nas urnas, o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, tentou ganhar maior protagonismo na campanha do que o próprio candidato socialista, Ángel Gabilondo, prolongando, assim, a sua guerra particular sobre a gestão da pandemia covid-19 com Ayuso.
A presidente manteve-se fiel a si própria ao escolher o lema eleitoral "Comunismo ou liberdade", em referência às medidas restritivas executadas pelo Governo para conter a pandemia. Conhecedora da sua popularidade numa capital cada vez mais polarizada, a autarca não treme na hora de abrir fogo contra o Executivo central, defendendo que o seu modelo soube lidar com a economia e saúde, enquanto o resto do país continua preso a uma ditadura pandémica.
Apesar do crescimento exponencial da candidatura do PP, graças à abrupta queda do Ciudadanos (de centro-direita), a vitória de Ayuso, que poderá duplicar os números de 2019, não será suficiente para governar sozinha, pelo que deverá precisar do controverso apoio da extrema-direita. A situação preocupa a liderança nacional do partido, devido à estratégia seguida por Pablo Casado desde há vários meses, que é a de afastar-se definitivamente do Vox (fascista) e tentar recuperar o eleitorado do centro.
Cartas com ameaças de morte
O facto que mudou completamente a campanha eleitoral foram as ameaças de morte - em forma de cartas com balas ou navalhas ensanguentadas - recebidas por Iglesias, alguns ministros e pela diretora da Guarda Civil, Maria Gámez.
Através da sua candidata, Rocio Monasterio, o Vox não condenou aqueles incidentes. Inclusive, chegou a insinuar que se tratava de uma estratégia eleitoral da Esquerda para colocar a população contra a extrema-direita. O partido liderado por Santiago Abascal - que poderá conquistar 12 assentos - continua a alimentar-se do confronto, criando um ambiente cada vez mais tóxico.
Numa última tentativa para evitar que o Vox consiga integrar um futuro Executivo regional junto ao PP, os três partidos da Esquerda - PSOE, UP e Más Madrid - juntaram forças para criar um cordão sanitário contra a extrema-direita sob o lema "Fascismo ou democracia".
Porém, esta possível coligação, similar à do Governo central, que tenta mobilizar o eleitorado de Esquerda, pode revelar-se insuficiente, já que as três forças não alcançariam a maioria absoluta. Só a candidatura progressista do Más Madrid, liderada por Mónica García, tem previsões de crescimento, sendo a terceira força mais votada - 23 lugares - e com hipótese de pôr em risco o segundo lugar do PSOE.
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Ciudadanos "desaparece"
As sondagens indicam que o Ciudadanos vai sofrer a maior queda em termos de votos, ficando fora do Executivo autonómico depois de ter conseguido 26 assentos há dois anos. O partido fez parte da coligação do anterior Governo madrileno.
Uma questão sem importância
A Polícia intercetou, em Barcelona, um envelope que continha duas balas, dirigido ao gabinete de Isabel Díaz Ayuso. A presidente da Comunidade de Madrid preferiu não dar importância à questão das ameaças.