"A comunidade portuguesa em França é muito heterogénea", constata João Heitor, sociólogo e membro da associação portuguesa Lusofolie"s, ao explicar que os nacionais que residem em França se dividem na hora de apoiar os partidos, que na segunda volta das eleições se reduzem a três: Ensemble, coligação de Emmanuel Macron, Nupes, coligação de esquerda liderada por Jean-Luc Mélenchon, e União Nacional, de Marine le Pen.
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Hermano Sanches Ruivo, membro da Assembleia Municipal da Câmara Municipal de Paris, concorda que a comunidade portuguesa abrange milhares de pessoas "com simpatias por diferentes coligações", mas, de uma forma geral, mobiliza-se mais para as eleições autárquicas, reiterando que "o facto de muitos franco-portugueses estarem ligados ao associativismo faz com que se aproximem mais da política local".
Abstenção pode crescer
A viver em Paris há mais de 50 anos, João Heitor sente que a diáspora portuguesa se tem vindo a afirmar cada vez mais no seio da política francesa, notando que "tem havido uma maior consciencialização da importância das eleições", sendo que, nestas legislativas, o número de deputados com origens portuguesas na Assembleia Nacional pode aumentar (ler ficha).
No entanto, num ano em que os eleitores já passaram por duas rondas de eleições presidenciais, nota-se um "cansaço eleitoral", o que pode desmotivar não só a comunidade lusa a dirigir-se às urnas, como os gauleses em geral.
A primeira volta, que ocorreu no domingo passado, teve uma abstenção histórica de 52,4%, mas analisando os dados das últimas legislativas, é possível que os resultados de hoje sejam ainda mais negativos. Em 2017, 57,36% dos eleitores não se deslocaram às urnas na segunda volta, enquanto na primeira ronda do escrutínio ficaram em casa 51,3%. Desde a reversão do calendário eleitoral, em 2002, altura em que as presidenciais passaram a anteceder as legislativas, os níveis de abstenção começaram a crescer em França.
Coabitação fora de jogo
Relativamente a um cenário de coabitação (situação em que o presidente e o Governo derivam de duas forças políticas diferentes), tanto Hermano Sanches Ruivo como João Heitor concordam que esta não deverá ser a realidade dos próximos cinco anos, mas divergem no que diz respeito ao futuro político de Emmanuel Macron.
"Macron pode ter mais votos, mas o seu drama será perder a maioria absoluta. Neste caso, pode ligar-se com a Direita republicana, deixando de exercer a máxima "quero, posso e mando"", referiu João Heitor, antecipando que "a Nupes já é a grande força da oposição".
Já Sanches Ruivo acredita que "vai haver uma maioria absoluta para o lado de Macron", o que, na perspetiva de vários analistas políticos, pode acontecer caso haja uma taxa de abstenção muito elevada, tendo em conta que seria impulsionada por camadas sociais com maior tendência para votar na coligação de Esquerda ou na União Nacional.
Ainda no início do segundo mandato presidencial, Macron tem evidenciado a veia europeísta para mostrar qual o caminho que quer seguir. Esta semana visitou a Ucrânia pela primeira vez desde que a Rússia invadiu o país, o que, na ótica de Sanches Ruivo, "não terá sido em vão".
Mélenchon, por sua vez, tem apostado numa campanha direcionada para as mudanças sociais e económicas, assegurando que, se alcançar a maioria absoluta, irá aumentar o salário mínimo nacional e a reforma será debatida.
Candidatos franco-portugueses
Heitor Sanches Ruivo, Membro da Ass. Mun. da Câmara de Paris
"O facto de muitos portugueses estarem ligados ao associativismo faz com que se aproximem mais das questões de política local"
João Heitor, Sociólogo
"Os portugueses querem afirmar-se na política e tem havido uma maior consciencialização da importância das eleições"
Pascoal Novais, Seine-et-Marne, nupes
Filho de portugueses, o candidato de Seine-et-Marne ganhou o seu círculo eleitoral com 27,15% dos votos.
Emmanuel Fernandes, Estrasburgo, nupes
Apresentou-se como candidato pela primeira vez e venceu a primeira volta com 36,89% dos votos.
Maxime da Silva, Seine-Maritime, nupes
Destacou-se por ter vencido com 33,02% dos votos, e promete um trabalho próximo de sindicatos e associações de proteção social.
Christine Pires, Puy-de-Dôme, nupes
A deputada socialista, que teve 41,84%dos votos, está muito perto de conquistar o terceiro mandato.
Ludovic Mendes, Moselle, ensemble
O deputado que integra a coligação de Macron conseguiu arrecadar 23,88% dos votos, podendo renovar o mandato.
Dominique da Silva, Val d'Oise, ensemble
Após cinco anos na Assembleia Nacional francesa, Dominique conseguiu 27,48% dos votos.
Anne Laure Cattelot, Norte, ensemble
A deputada de origem portuguesa luta pela permanência na Assembleia Nacional, enfrentando um candidato da extrema-Direita com 33,91%, enquanto Cattelot teve 27,32%.
Célia Pereira, Lille, nupes
Está em posição de desvantagem, tendo conseguido, ainda assim, apurar-se contra a deputada do Ensemble, arrecadando 19,94% dos votos.
Virginie de Carvalho, Seine-Saint-Denis, independente
A dissidente do Partido Comunista foi apurada para a segunda volta contra a candidata da Nupes, numa luta onde a candidata lusa ficou em segundo com 15,18% dos votos.
Christophe Proença, Lot, independente
O dissidente socialista conseguiu apurar-se para a segunda volta com 23,16% dos votos.
Nathalie Ribeiro-Billet, Somme, União nacional
A candidata da extrema-Direita ficou em segundo lugar face ao candidato da Nupes, tendo conseguido 22,58% dos votos.